RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A medalha de ouro foi a principal conquista da judoca Majlinda Kelmendi, 25, na Olimpíada do Rio. O seu prêmio maior, no entanto, foi ver a bandeira do Kosovo no alto da Arena Carioca 2 ao som do hino do país.
Ela foi a primeira medalhista da história do país numa Olimpíada. O Kosovo participa pela primeira vez dos Jogos, após o reconhecimento pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) em 2014.
Além de esportiva, sua vitória é diplomática. O triunfo sobre a italiana Odette Giufrida na categoria meio-leve foi acompanhada pelo presidente do COI, o alemão Thomas Bach, e do Kosovo, Hashim Thaçi.
“Quero mostrar ao mundo que Kosovo não é só guerra. Temos crianças muito talentosas para esporte. Consegui provar que, se elas querem ser um campeões olímpicos, elas podem ser, mesmo sendo de um país pequeno e pobre”, disse ela, após receber a medalha.
Kelmendi é o primeiro ídolo da jovem nação. Também foi porta-bandeira do país europeu na cerimônia de abertura no Maracanã.
O Kosovo declarou sua independência da Sérvia em 2008, mas não é reconhecido pela ONU e por 84 dos seus 193 Estados-membros, entre eles o Brasil.
O conflito étnico na Sérvia teve seu auge entre 1998 e 1999, quando estima-se que 13 mil pessoas morreram na chamada guerra do Kosovo.
Um dos combatentes era Dritton Kuka, 44, técnico de Kelmendi. Ex-judoca da seleção da Iugoslávia, ele não pôde competir em Barcelona-92 por questões políticas.
A judoca não quis falar sobre o como o conflito afetou sua família. “Estou aproveitando o momento. Não é o momento de política”, disse, sorrindo.
A medalhista de ouro disputou Londres-12, quando não subiu ao pódio, pela Albânia, cuja população é da mesma etnia dos kosovares.
No ano seguinte, venceria seu primeiro Mundial, também no Rio, já vestindo as sigla KOS nas costas.
Na conquista do bicampeonato, em 2014, foi obrigada a lutar com a sigla IJF, da Federação Internacional de Judô, nas costas porque a Rússia não aceitou a representação do Kosovo na competição.
Ao vencer o torneio, ela não pôde ver a bandeira de Kosovo no pódio, nem escutou o hino nacional.
Ela afirma que recebeu propostas financeiras de outros países para que se naturalizasse.
“Ofereceram milhões. Mas não se comparam com o que senti hoje”, disse ela.
“O mais importante é que fizemos tudo isso no Kosovo. Majlinda é feita no Kosovo. Sempre treinou lá e vai continuar”, disse o técnico Kuka.
Bach, presidente do COI, foi o responsável por entregar a medalha a Kelmendi.
“Ele disse: ‘Você se lembra que eu esperava de você a medalha de ouro. Agora você conseguiu’. Isso me fez chorar”, contou Majlinda.
O Kosovo tem outros sete atletas disputando a Olimpíada.
“Espero que os países que não reconhecem, o façam agora. Espero que o Brasil mude [seu posicionamento]”, disse Kuka.