Turquia inicia ação militar terrestre contra o Estado Islâmico na Síria

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DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – A Turquia iniciou uma operação terrestre no norte da Síria na madrugada desta quarta (24) em uma ação militar para expulsar militantes da facção terrorista Estado Islâmico da fronteira entre os dois países.
A operação coincide com a visita de Joe Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, à Turquia. Um dos assuntos na pauta de seu encontro com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, é justamente a segurança na Síria e no Iraque.
A operação foi iniciada às 4h locais (23h de terça em Brasília) com bombardeios na cidade síria de Jarabulus, um dos últimos bastiões do Estado Islâmico na região, segundo informações do jornal americano “New York Times”.
A ação amplia a participação turca no conflito sírio, iniciado em 2011, e pode afetar a dinâmica de poder na região. Já era esperado que a Turquia, membro da Otan (aliança militar ocidental), respondesse aos pedidos por uma atuação mais direta na Síria.
Tanques da Turquia entraram no território sírio durante a operação, de acordo com a agência de notícias estatal turca Anadolu. As tropas, incluindo forças especiais turcas, tiveram apoio aéreo dos EUA. Houve também disparos de artilharia. Dezenas de alvos foram atingidos.
Um dos objetivos turcos era abrir passagem a milícias que apoia na Síria contra o regime de Bashar al-Assad.
A Turquia tem, no entanto, outro objetivo na região. O governo, em embate com a população de etnia curda no sudeste de seu país, se preocupa com os avanços de milícias curdas no norte da Síria. Os EUA apoiam os curdos na Síria, complicando o cenário.
Milícias curdas na Síria afirmaram que a incursão terrestre turca era uma “agressão aos assuntos internos sírios”.
Esse é o primeiro ataque aéreo turco na Síria desde novembro, quando derrubou um caça russo e iniciou um conflito diplomático. A reaproximação entre Turquia e Rússia ocorreu apenas neste mês. Em fevereiro de 2015, a Turquia fez também uma limitada operação terrestre na Síria.
No início desta semana, o governo turco havia prometido medidas para eliminar a milícia Estado Islâmico do sul do país. Essa organização é culpada por um atentado a um casamento na Turquia, no sábado (20), que deixou ao menos 54 mortos.
TENTATIVA DE GOLPE
A operação militar também coincide com um período de ansiedade política, após a tentativa frustrada de golpe militar em 15 de julho. Mais de 240 pessoas foram mortas. No último mês, o governo turco tem promovido um expurgo no país, detendo ou demitindo em setores como o Exército, o Judiciário e a imprensa.
Nesse contexto, a Turquia pede que o governo americano extradite o clérigo Fetullah Gülen, exilado nos EUA. Erdogan acusa Gülen de ter organizado a tentativa de golpe, o que o clérigo nega.
Erdogan afirmou nesta quarta-feira que os EUA “não tem desculpas” para não extraditar Gülen. Não é esperado, no entanto, que Biden anuncie a extradição do clérigo durante sua visita.