Renan e líder do governo negociaram anistia, dizem parlamentares

Presidente da sessão, Presidente do Senado, senador Renan Calheiros (PMDB-AL)
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RANIER BRAGON, DÉBORA ÁLVARES E MARINA DIAS
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Deputados e senadores relataram à reportagem que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), outros senadores e o líder do governo Michel Temer na Câmara, André Moura (PSC-SE), também participaram das conversas para tentar aprovar uma anistia aos políticos alvos da Operação Lava Jato.
A manobra que envolveu líderes dos principais partidos políticos no Congresso, governistas e de oposição, acabou sendo abortada na noite desta segunda-feira (19).
Na ocasião, o plenário da Câmara dos Deputados tentou aprovar de surpresa projeto tipificando o crime de caixa dois -o dinheiro de campanha não declarado à Justiça- com o objetivo oculto de anistiar aqueles que o praticaram até então.
Após reação, porém, a sessão foi encerrada sem que o texto do projeto viesse à público.
Deputados e senadores afirmaram à reportagem que havia o acerto para que Renan colocasse o tema em votação nesta terça-feira (20) no Senado caso a Câmara o aprovasse na noite anterior.
Os deputados e senadores foram convocados a Brasília nesta semana para participar, prioritariamente, de uma sessão do Congresso Nacional na noite de segunda para votar temas relativos ao Orçamento e vetos presidenciais. Responsável pela realização dessa sessão, Renan acabou cancelando-a mesmo havendo quorum de deputados e senadores no Congresso.
Caso ela tivesse ocorrido, a Câmara não poderia ter mantido a sessão em que tentou votar a anistia.
“Fomos enganados. Fomos chamados para uma sessão do Congresso. Ninguém falou sobre esse projeto. Óbvio que tem o dedo do Senado, houve uma fraude”, afirmou o vice-presidente do Conselho de Ética da Câmara, Sandro Alex (PSD-PR).
Em reunião no gabinete de Renan na noite desta segunda, o presidente do Senado demonstrou irritação, segundo relatos, com o recuo da Câmara. Estiveram presentes senadores do PMDB, PT e PSDB, entre outros.
Em entrevista nesta terça, Renan negou qualquer participação ou conhecimento das negociações. “Eu não fui informado do que conteria essa proposta, sinceramente. Não participei em nenhum momento dessa decisão [de pautar a proposta]. Eu não sei de nada, o que se pretende, qual é o texto, se é eficaz, em que momento vai votar. Isso não chegou ainda ao Senado.”
Renan é investigado em inquéritos no Supremo Tribunal Federal sob suspeita de integrar o petrolão.
Um dos que discutiram a proposta na Câmara é o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), um dos principais interlocutores do presidente nacional da legenda, o senador Aécio Neves (MG).
Em nota, a assessoria do PSDB afirmou que o assunto jamais foi discutido pela direção nacional do partido ou pelos senadores da sigla, “que sequer conhecem o texto que, segundo o noticiado, seria submetido à votação na Câmara.”
Sampaio nega qualquer tentativa de anistiar alvos da Lava Jato. Afirma que o objetivo era deixar clara a tipificação do caixa dois e inibir a prática nas eleições deste ano.
GOVERNO
O Palácio do Planalto avaliou como “muito ruim” a articulação da anistia, cuja votação contou com o aval do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Auxiliares do presidente Michel Temer acreditam que a tentativa de votação na surdina “pegou mal” na opinião pública e que Maia “errou” ao levar a discussão ao gabinete presidencial.
Durante a viagem de Temer a Nova York, o deputado despacha do Planalto como presidente interino e tem recebido dezenas de deputados desde a segunda-feira (20).
Com as repercussões negativas, a ordem de Temer é “manter distância” do assunto com o discurso oficial de que este é um “tema da Câmara”.
Deputados disseram, porém, que o líder do governo na Câmara participou das reuniões em que o assunto foi discutido. A reportagem entrou em contato com a assessoria de Moura, mas não conseguiu falar com o deputado na tarde desta terça-feira.
OPOSIÇÃO
Além dos governistas, partidos de oposição também integraram a manobra. Só os “nanicos” de esquerda PSOL e Rede se colocaram contra.
No PT, o maior partido de oposição, houve uma reunião da bancada durante a sessão, no gabinete da liderança do partido. De acordo com relatos, os deputados Vicente Cândido (SP) e Zeca Dirceu (PR) foram os que defenderam com mais ênfase as medidas. Jorge Solla (BA) ficou na ala contrária. O deputado da Bahia foi o único petista que discursou contra a medida durante a sessão. O líder da bancada, Afonso Florence (BA), não se manifestou.
Nos bastidores, parlamentares afirmam ser grande o temor dos desdobramentos de eventuais acordos de delação premiada com as empreiteiras Odebrecth e OAS, que eram grandes financiadoras das campanhas políticas.

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