Vinte anos depois, medo persiste na rua de São Paulo onde caiu o Fokker

SÃO PAULO, SP. 31.10.1996: Queda do avião Fokker-100 da TAM no bairro do Jabaquara, em São Paulo (SP). (foto: Ormuzd Alves/Folhapress)

TRAGÉDIA – Acidente na zona sul da capital foi um dos maiores acidentes aéreos da aviação brasileira; a queda do Fokker 100 da TAM matou 99 pessoas nesta segunda-feira (31)

Na rua Luís Orsini de Castro, na zona sul de São Paulo, o barulho dos aviões que chegam e deixam o aeroporto de Congonhas pode ser ouvido a cada minuto. E entre os moradores, o ruído reacende a memória de um dos maiores acidentes aéreos da aviação brasileira, a queda do Fokker 100 da TAM, que matou 99 pessoas e completa 20 anos nesta segunda-feira (31).

“Depois daquele dia, qualquer barulho um pouco mais alto já me amedronta”, conta a moradora da rua do acidente, Maria Nilda Paschoal, 55. “Muita gente se mudou da rua porque não conseguiu continuar morando aqui.”

Maria e sua família haviam acabado de acordar quando às 8h26 de uma quinta-feira, 24 segundos após sua decolagem, o jato da TAM com destino ao Rio de Janeiro caiu sobre sua casa.

O marceneiro Edison Comin, 54, é outro que ainda se assusta com a proximidade dos jatos. “A gente fica sempre de cabelo em pé. Se acontecer de novo, escapar pela segunda vez vai ser difícil”, diz. “A gente até quer que o aeroporto saia daqui. Mas sabe que é difícil.”

Segundo a Agência Civil de Aviação, a Infraero e a Aeronáutica, o aeroporto na zona sul de São Paulo respeita todas as diretrizes de segurança para seu funcionamento.

 

 

Corpos enfileirados no asfalto virou a imagem da tragédia

 

Segundo a investigação da Aeronáutica, ainda durante a decolagem uma falha ativou o reverso do motor direito do Fokker. Foi como acionar o freio exatamente no momento em que a aeronave precisava acelerar para ganhar mais sustentação.

Sem perceber essa falha, os pilotos não conseguiram controlar o avião que caiu sobre as casas da rua Luís Orsini de Castro. Na queda, o Fokker ainda matou três pessoas que estavam na rua.

“O trem de pouso veio parar no meu quarto”, lembra Arnaldo Silva. Jorge, filho de Arnaldo, conta que seus pais escaparam por segundos. Eles foram resgatados de dentro de casa com a ajuda de vizinhos.

“Da calçada, acompanhei a remoção de corpos das vítimas. A precariedade do procedimento foi uma barbaridade. Era muito mais voluntarismo dos envolvidos do que o atendimento de protocolos”, lembra Jorge.

Os corpos, retirados das fuselagens e escombros, foram enfileirados ao longo da rua. “Os moradores do bairro é que forneceram sacos de lixo para ao menos cobrir as vítimas”, conta Jorge. A cenas dos sacos com os corpos dentro, todos enfileirados no asfalto, ficou sendo a imagem da tragédia.

A LATAM, em nota, declarou que se solidariza com todos afetados pelo acidente e que, desde o primeiro momento, emprenhou-se em apoiar os familiares e concluir o mais rápido possível as indenizações.