Relator defende delações e TSE trabalha para concluir julgamento nesta semana

06 06 2017 Brasilia DF Brasil Julgamento da chapa Dilma Temer Ministro Herman Benjamin relator da Aije 194358 faz leitura de seu relatório durante sessão plenária do TSE. Brasília-DF, 06/06/2017 Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE
Único jornal diário gratuito no metrô

Relator da ação que pode cassar o mandato do presidente Michel Temer, o ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Herman Benjamin defendeu nesta quarta-feira (7) que as delações da Odebrecht sejam usadas no processo, o que contrariou a posição evidenciada pelo presidente da corte, Gilmar Mendes.
Ambos trocaram provocações sobre o tema e sinalizaram ter prioridades diferentes quanto ao tempo para finalizar o caso.
Enquanto Herman fazia seu discurso demoradamente, Gilmar atuou para marcar sessões extras do tribunal na tentativa de terminar o julgamento ainda esta semana.
O relator leu por cerca de três horas suas considerações sobre três preliminares, levantadas pelas defesas, sem ainda chegar ao mérito da ação. Defendeu que mesmo os depoimentos colhidos após a primeira fase de instrução, caso da Odebrecht e dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura, devem ser utilizados, pois não extrapolam a investigação inicial.
Gilmar, por sua vez, o interrompeu em diversos momentos, tentando acelerar e desconstruir o discurso do colega.
O presidente da corte disse que era “falacioso” o argumento de busca da verdade real, usado por Herman para defender sua análise. Gilmar prosseguiu afirmando que, se fosse para seguir esse raciocínio, o relator deveria incluir as delações da JBS, homologadas no início do mês, e uma eventual colaboração do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.
Quando percebeu que sua investida para dar celeridade à sessão não teria sucesso, Gilmar resolveu convocar reuniões extras para esta quinta (8), inclusive pedindo suspensão de compromissos no STF (Supremo Tribunal Federal), do qual fazem parte ele e mais dois ministros.
Um dos principais conselheiros jurídicos de Temer, Gilmar é considerado pelo Planalto peça-chave no desfecho do julgamento por sua capacidade de articulação com os demais ministros. A pressa do presidente da corte foi considerada por aliados de Temer um sinal de que o resultado pode ser favorável ao peemedebista.
Para fazer valer seu posicionamento de considerar, no julgamento, os depoimentos de delatores da Odebrecht sobre caixa dois e propina na campanha de 2014, Herman tentou demonstrar que a petição inicial feita pelo PSDB naquele ano já citava a Lava Jato.
O relator leu trechos de um voto de Gilmar, de agosto de 2015, em que o hoje presidente da corte foi favorável ao prosseguimento da ação de impugnação da chapa afirmando que havia, sim, relação entre a campanha e a corrupção investigada na Lava Jato.
“A cada nova operação [da PF], há fatos conexos aqui [no TSE]. Puxa-se uma pena e vem uma galinha na Lava Jato”, disse à época Gilmar, criando uma alegoria que se tornou célebre.
Segundo Herman, o voto do próprio Gilmar em 2015 indica que não há, hoje, ampliação da petição inicial: a corrupção apurada na Lava Jato estava contida na ação do PSDB, embora, naquele momento, se soubesse menos sobre ela. Daí a pertinência, conforme o relator, de considerar as testemunhas da Odebrecht.
EGO
Gilmar assistiu à exposição de Herman, desta vez em silêncio. Ao final, porém, fez um discurso duro em que disse que seu voto antigo, usado pelo relator, era, na verdade, o motivo de os juízes estarem ali.
“Essa ação só existe graças ao meu empenho, modéstia às favas”, finalizou Gilmar.
Em meio à disputa de egos, o presidente da corte disse que era graças a ele também que Herman estava “brilhando na TV”.
O relator, que é conhecido por colegas por ser vaidoso, respondeu que não queria ter sido escolhido para relatar a ação.
“Eu preferia não ter sido relator, não escolhi ser relator. Prefiro o anonimato”, disse.
A sessão desta quarta (7), segundo dia de julgamento da chapa Dilma-Temer, terminou às 13h05, e será retomada nesta quinta (8), às 9h. A expectativa é a de que a discussão siga por todo o dia.

(FOLHAPRESS)