PM espera ‘batalha diária’ para conter montagem de barracos na cracolândia

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Uma operação da Polícia Militar que retirou barracos de lona da praça Princesa Isabel na manhã neste domingo (11) marcou o início de uma nova estratégia do governador Geraldo Alckmin e do prefeito João Doria, ambos do PSDB, para tentar esvaziar o chamado “fluxo” de usuários de crack no centro de São Paulo.
A partir de agora, dizem eles, não será mais permitida a montagem de tendas e barracas na praça ou em qualquer outro ponto do centro. Isso, na avaliação deles, tende a inibir a presença de traficantes em meio aos dependentes e, dessa forma, abrir dois possíveis caminhos:
1) Sem um ponto fixo de compra e venda de crack, pessoas de outros bairros e municípios não devem procurar mais esse local;
2) Sem oferta de drogas, os viciados ficariam mais propensos a aceitar a abordagem para tratamento médico.
A ação da PM neste domingo (11) teve o apoio da prefeitura. Eles isolaram os quarteirões, entraram na praça, prenderam dois suspeitos de tráfico e passaram a retirar os usuários. Esses, diante da aproximação dos policiais, colocaram fogo em colchões e barracos -alguns serviam de base para a ação dos traficantes.
Não houve confronto, e os usuários se espalharam para outros pontos da região central. Alguns dos viciados reclamavam. “Perdi celular, relógio, documentos. Estava tudo dentro da barraca”, diz Isaias dos Santos, 61.
Foram apreendidos cerca de dois quilos de crack, R$ 1.600 reais em dinheiro e três celulares. A prefeitura deslocou 24 caminhões para recolher o lixo da praça.
O local ficou conhecido como a nova cracolândia da cidade, com a presença de quase mil pessoas. A compra e a venda de drogas ocorriam livremente naquele espaço.
Esta foi a a segunda ação em menos de um mês para dispersar a cracolândia. No último dia 21, uma ação policial prendeu traficantes e desobstruiu vias nas quais funcionavam uma feira de drogas a céu aberto sob o comando de uma facção criminosa.
A ação policial naquele domingo ocorreu sem articulação com a prefeitura. Os responsáveis pela área da saúde e da assistência social, por exemplo, só ficaram sabendo da operação um dia antes.
Em meio a esses desencontros, o que se viu nos dias seguintes foram usuários espalhados pelas ruas e a formação de uma grande concentração deles na praça Princesa Isabel, a 400 metros da cracolândia original.
Nessas três semanas, nenhuma ação conseguiu reduzir o tamanho da nova cracolândia. A gestão Doria, nesse intervalo, buscou autorização judicial para recolher à força os usuários das ruas, para atendimento médico, mas esse pedido foi rejeitado.
Enquanto isso, agentes de saúde e da área social de prefeitura e Estado seguiram no trabalho de abordagem individual de cada um dos usuários para convencê-los a buscar tratamento médico. Essa ação, porém, fica sempre mais complicada diante da oferta abundante de drogas.
Agora, Alckmin e Doria dizem que a estratégia será diferente. Segundo eles, não será mais permitida a montagem de barracas por usuários de drogas. “Esse é um trabalho permanente. Isso não vai resolver do dia para a noite”, disse o governador, em entrevista ao lado de Doria.
“A GCM [guarda-civil] está orientada a retirar novas barracas que forem montadas no entorno”, completou o secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho.
RETORNO À PRAÇA
No meio da tarde, cerca de seis horas após a ação policial, os usuários começaram a retornar à praça. Antes, passaram por revista e foram proibidos de levar lonas, estacas e outros objetos que permitisse montar barracas. Carrinhos também foram proibidos, e taco de golfe e uma prancha de surfe foram apreendidas.
“Eles não usam a barraca como refúgio, mas como esconderijo para consumir e traficar drogas”, diz o tenente-coronel da PM Miguel Daffara, que comandou a operação deste domingo.
Para ele, o controle para que novas barracas não sejam montadas na praça não será fácil. “Será uma batalha diária”, diz o policial.
Nos últimos dias, a Folha de S.Paulo presenciou que o tráfico de drogas ocorria dentro de algumas barracas -balcões com pedras de crack e bebidas ficavam na entrada. Com presença escassa da PM na praça, a venda ocorria sem intervenção policial.
Para Doria, essa vai e vem dos usuários é “um direito das pessoas”. “Não se pode impedir que as pessoas circulem pela cidade. Nós não vamos permitir a instalação de equipamentos financiados pelo PCC que domina a distribuição de entorpecentes e acabou o shopping center [de drogas] que existia até recentemente”, afirmou o prefeito.
Líderes de igrejas evangélicas, assistentes sociais e agentes de saúde intermediaram as negociações a respeito de como seria feito o retorno para a praça. O principal pedido dos usuários é que não fossem feitas revistas pessoais, apenas nos pertences, o que foi atendido pela PM.
Assistentes sociais disseram que a operação foi necessária para fazer a limpeza da praça, já que os usuários se recusavam a deixar o local para a retirada do lixo que se acumulou no local. Havia risco sanitário e lixo tóxico, como fios de cobre.

(Folhapress)

Foto: Nelson Antoine

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