Uma reportagem do jornal britânico “the Guardian” revelou nesta sexta-feira (16) que uma falha do Facebook pôs a vida de funcionários em risco após expor suas informações pessoais a usuários da rede social suspeitos de terrorismo.
A falha de segurança afetou mais de 1.000 funcionários, incluindo terceirizados, em 22 departamentos do Facebook. Esses funcionários eram responsáveis por moderar considerado inapropriado pela plataforma, como material sexual, discurso de ódio e propaganda terrorista.
A falha fazia com que as informações pessoais dos funcionários aparecessem como notificações no painel de atividades de grupos da rede social cujos administradores foram banidos por violar os termos de uso. Com isso, os demais administradores dos grupos tinham acesso aos dados dos funcionários.
Dos 1.000 funcionários afetados, aproximadamente 40 trabalhavam em um departamento de contraterrorismo na sede europeia do Facebook, em Dublin, na Irlanda. Destes, seis funcionários foram classificados como vítimas de alta prioridades por terem suas informações provavelmente vistas por suspeitos de terrorismo.
Moderadores suspeitaram que havia um problema de segurança após receber solicitações de amizade de pessoas ligadas aos grupos terroristas que estavam vasculhando.
A falha foi identificada pelo Facebook no início de novembro de 2016, mas só foi corrigida duas semanas depois. As informações pessoais dos funcionários ficaram expostas durante um mês. Em nota, a empresa confirmou a existência falha e disse que fez correções para “melhor detectar e prevenir a ocorrência desse tipo de problema”.
FUNCIONÁRIO ‘EXILADO’
O “Guardian” conversou com um dos seis funcionários mais vulneráveis, que pediu que fosse mantido seu anonimato por razões de segurança.
Ele é um cidadão irlandês nascido no Iraque com pouco mais de 20 anos de idade e fora contratado pela empresa de terceirização Cpl Recruiting para trabalhar como “analista de operações de comunidade” no Facebook, uma função geralmente mau paga destinada a moderar o conteúdo da rede social.
O funcionário pediu demissão e fugiu da Irlanda para o Leste Europeu por cinco meses após descobrir que sete indivíduos ligados a um grupo suspeito de terrorismo que ele havia banido do Facebook haviam acessado suas informações pessoais.
Segundo ele, esse grupo era sediado no Egito e apoiava o grupo radical palestino Hamas e tinha membros que simpatizavam com a organização terrorista Estado Islâmico (EI).
Outros colegas afetados tiveram seus perfis acessados por contas ligadas ao EI, a milícia xiita libanesa Hizbullah e o grupo curdo PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). O Facebook orienta sua política de moderação de grupos radicais seguindo a lista de organizações terroristas do Departamento de Estado dos EUA.
O moderador afirmou ter fugido por temer retaliações e por se sentir inseguro em Dublin. O Facebook ofereceu às vítimas de alta prioridade aconselhamento jurídico, além da instalação de alarme em suas residências e transporte de casa para o trabalho, mas o funcionário disse que não estava satisfeito com essas medidas.
Ele disse que se sentiu exilado enquanto vivia no Leste Europeu e que procurou viver de maneira discreta. Ele voltou para a Irlanda no mês passado após suas economias se esgotarem, mas diz que ainda sente medo, sofrendo de ansiedade e depressão.
Após voltar para casa, o funcionário entrou com uma ação contra o Facebook e a Cpl e busca compensação pelos danos psicológicos provocados pelo vazamento.
O Facebook ressaltou ter oferecido assistência às vítimas e disse que, provavelmente, apenas uma pequena parte dos nomes expostos foi de fato vista. “Não temos evidência de ameaças contra as pessoas afetadas ou seus familiares por conta desse problema”, disse um porta-voz da empresa.
Em maio, o “Guardian” revelou as diretrizes da política de moderação do Facebook. É permitida, por exemplo, a transmissão ao vivo de tentativas de suicídio e autoflagelação, enquanto orienta-se que sejam deletados comentários que remetem a ameaças de morte ao presidente dos EUA, Donald Trump.
(FOLHAPRESS)
Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas