Julgamento da maior chacina de SP tem início com protestos em Osasco

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Começou por volta das 15h desta segunda-feira (18) o julgamento de três acusados de participar da chacina que deixou 17 pessoas mortas em 2015 em Osasco, região metropolitana de São Paulo. O júri pode durar até 12 dias.

Nesta segunda, serão ouvidas seis pessoas: dois delegados, o capitão da corregedoria da PM, dois policiais civis e uma testemunha. Às 14h45, começou o sorteio dos jurados, que será composto por quatro homens e três mulheres. Na porta do fórum de Osasco, familiares das vítimas e dos acusados presos protestavam.

Rosa Francisca Correa Nascimento, 49, mãe de Wilker Thiago Correa Osório, morto aos 29 anos no massacre enquanto voltava pra casa, a pé, diz que “só sai com a condenação” dos acusados. “Espero que seja feita a justiça”. “A gente tenta não lembrar, mas não tem como esquecer”, diz ela, sobre os últimos dois anos sem o filho. “O vazio fica e a saudade vem.”
Familiares dos policiais e guarda presos portavam faixas pedindo liberdade aos acusados e placas com dizeres “Joinha não é prova”, em referência à mensagem que o guarda municipal Sérgio Manhanhã, 43, enviou ao policial militar Victor Cristilder dos Santos, também acusado, no momento da chacina -a figura de um sinal de joia.
A figura, segundo o advogado do réu, Abelardo Julio da Rocha, se refere a uma troca de livros. Para ele, o caso está “repleto de falta de provas” e “houve um açodamento, uma pressa a se apontar pseudoculpados”.

O acesso de carros foi bloqueado e policiais encapuzados e fortemente armados, além de guardas municipais, fazem a segurança do local.

CASO

Em agosto de 2015, ataques em série de homens encapuzados deixaram um saldo de 17 pessoas assassinadas em Osasco e na vizinha Barueri.
Irão a julgamento os policiais militares Fabrício Emmanuel Eleutério, 32, e Thiago Barbosa Henklain, 30, e o guarda municipal de Barueri Sérgio Manhanhã, 43.

De acordo com a acusação, a chacina foi provocada por um grupo de PMs, de Osasco, e guardas civis, da vizinha Barueri, que se uniram para vingar a morte de dois colegas deles em dias anteriores.
Os criminosos, usando touca ninja, saíram em ao menos dois carros por ruas dessas cidades atirando contra alvos escolhidos por eles. Em um único bar de Osasco, oito pessoas foram assassinadas e outras duas ficaram feridas.

Os principais indícios que serão levados ao júri buscando condenar os acusados são:
1) o reconhecimento de Eleutério por sobrevivente;
2) uma testemunha que diz ter ouvido de terceiro que a mulher de Henklain reconheceu o PM em imagens de TV entre os assassinos do bar;
3) uma comunicação entre o PM Victor Cristilder, também acusado, e o guarda municipal na noite do crime, antes e depois da chacina, por meio de WhatsApp, sem texto, só com um sinal de positivo.

Os réus se dizem inocentes. O governo paulista criou uma força-tarefa, mas não conseguiu encontrar armas, carros e roupas usados nos ataques.
Nenhuma das vítimas da megachacina tinha ligação com a morte dos agentes em dias anteriores, e a maioria não tinha passagem policial.
O júri do também PM Victor Cristilder, 32, será realizado em data ainda não marcada, porque ele foi o único que recorreu da sentença que mandou todos a júri. Todos estão presos em São Paulo há cerca de dois anos.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirma que a polícia ouviu cerca de cem pessoas na investigação. Houve indiciamento de seis PMs e um guarda municipal. Posteriormente, a Promotoria denunciou os sete indiciados, mas três casos foram recusados pela Justiça.
A pasta do governo estadual diz que os policiais estão presos ou “afastados do trabalho operacional” e todos eles respondem a processo demissório aberto pela PM.

A CHACINA DE OSASCO E BARUERI
Julgamento do caso começa na segunda-feira (18)
Do que os 4 suspeitos são acusados
De estarem envolvidos no assassinato de 17 pessoas em 13.ago.2015, em Osasco e Barueri, em retaliação à morte de um PM e um guarda municipal em assaltos dias antes. Cada réu é acusado por um número de mortos e feridos

O que diz a denúncia
Os réus faziam parte de uma milícia armada que atuava na segurança de comerciantes da região e na prática de crimes, como homicídios. Eles se conheciam por meio do PM Victor Cristilder, que seria chefe da segurança de um supermercado de Carapicuíba

Principais evidências, segundo a Promotoria
– Há 3 testemunhas: uma reconheceu um dos PMs na chacina, uma viu outro PM na pré-chacina e a terceira diz que vizinho ouviu uma briga
– Um dos PMs e o GCM trocaram mensagens de “positivo” antes e depois do horário da chacina
– Parte de cápsulas apreendias eram de lote do Exército, onde um deles já trabalhou

Fragilidades da acusação
– Não há provas da ligação entre os quatro réus, contrariando a tese de formação de milícia
– Relatos das testemunhas apresentam contradições
– Faltam evidências como armas, veículos e ligações em celular

CRONOLOGIA DO CASO
7.ago.2015
Cabo da PM Ademilson Pereira, 42, é morto em assalto em Osasco
8 a 10.ago.2015
Ocorrem “pré-chacinas”, com mortes em Itapevi, Carapicuíba e Osasco
12.ago.2015
Guarda civil Jefferson Luiz da Silva, 40, é morto em assalto em Barueri
13.ago.2015
Um homem é morto em Itapevi, e chacina em Osasco e Barueri termina com 17 mortes
Dez.2015
Após polícia concluir investigação, Ministério Público denuncia três PMs e um guarda municipal
Out.2016
Os quatro suspeitos são presos
Dez.2016
Victor Cristilder, um dos PMs, é absolvido em outra denúncia por morte em 8.ago ligada à chacina
Fev.2017
Justiça decide que os quatro acusados no processo principal vão a júri popular
18.set.2017
Início do julgamento em tribunal de Osasco, que terá 42 testemunhas

Foto: Aloisio Maurício/Fotoarena/Folhapress

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