Mostra é alvo de polêmica racial ao retratar brancos com a pele escurecida

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Com a intenção de discutir a representação do negro na sociedade, Alexandra Loras, ex-consulesa da França e colunista da Folha de S.Paulo, inaugura a exposição “Pourquoi Pas?” (Por que Não?, em francês) em 2/12, na Galeria Rabieh.
Ao divulgar no Facebook o novo projeto, Loras foi acusada por internautas de praticar o “blackface”.
As obras que serão expostas são oriundas de edição -Loras modificou, via Photoshop, retratos de personalidades brancas, escurecendo sua pele e inserindo traços associados a afrodescendentes.
O “blackface” era uma prática adotada no século 19, em que atores brancos se pintavam com carvão para representar personagens negros de forma satirizada.
“Não é blackface”, rebate Loras. “Eu sou negra e, como artista, tenho o direito de me expressar sobre o que está acontecendo na mídia, como a escravidão moderna.”
Entre as 40 imagens expostas estão retratos de Donald Trump, da rainha Elizabeth, do papa João Paulo 2º, de Gisele Bündchen, Michel Temer, Xuxa e Carmen Miranda.
Comentários como “ver brancos de sucesso pintados como negro não aumenta nem um pouco minha autoestima como negra” ou “volta para a França” permearam a página oficial de Loras na rede social desde sábado (25).
Helio Beltrão, fundador-presidente do Instituto Mises, que promove estudos de cunho liberal, considera que não haja pratica racista nas obras. “Qualquer um que fizer a lição de casa vai descobrir que Loras é engajada no movimento negro.”
No entanto, ele não acredita que ela esteja sendo alvo de excessos de correção política. Para ele as críticas são legítimas. “Só pode ser considerada uma ditadura do politicamente correto se houver algum patrulhamento ou censura à exposição”, disse.
A ideia da artista desagradou o historiador Antonio Riserio, que considerou a mostra um exemplo de “blackfake”, (mistura das palavras “preto” e “falso” em inglês).
“O que não falta no Brasil é preto famoso, de Pelé a Milton Nascimento, passando por Zezé Motta, etc. Ou seja: a ‘provocação’ dela nada tem de provocação mesmo.”

MUNDO INVERTIDO
Loras diz que não pretende cancelar a mostra. Ela afirma que quis representar uma situação de ‘mundo invertido’.
“É uma dinâmica para trazer empatia, para os brancos entenderem como o nosso mundo, tido como libertário e meritocrático, é um absurdo.”
Em um país onde metade da população é negra, ela explica que sua provocação se destina a fazer o branco, que “não nos contrata, que nos inferioriza, enxergar que ele tem que ajudar a resolver [o racismo].”
A escritora Ana Maria Gonçalves questiona a ideia de Loras. “Um ‘mundo invertido’ é de fato o que queremos? Prefiro pensar em integração pelo desmonte do racismo que impossibilita oportunidades de ascensão para os negros, não em inversão.”

POURQUOI PAS?
QUANDO abertura em 2/12, das 17h às 22h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h; até 14/01
ONDE Galeria Rabieh – al. Gabriel Monteiro da Silva, 147
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(Folhapress)
Fotos: Alexandra Loras/Divulgação