A Andrade Gutierrez omitiu em seu acordo de delação premiada, segundo o Ministério Público Federal, propina paga ao ex-secretário municipal de Obras do Rio Alexandre Pinto, preso nesta terça-feira (23) pela segunda vez.
A investigação que culminou na Operação Mãos à Obra aponta que a empreiteira pagou R$ 3 milhões a Pinto entre 2013 e 2014, durante a gestão Eduardo Paes (MDB) na Prefeitura do Rio. A informação foi repassada pelo empresário Celso Ramos Junior, laranja do ex-secretário que mantinha em seu nome recursos de Pinto no exterior. Ele firmou colaboração com o Ministério Público Federal.
A Andrade Gutierrez tem sido cobrada pela omissão de fatos em seu acordo de delação. A Procuradoria tem pressionado a empresa a fazer uma espécie de “recall” da colaboração, sob risco de aumentar a multa de R$ 1 bilhão paga no acordo de leniência, bem como aumento de pena aos executivos.
“Dois colaboradores da Andrade Gutierrez citaram propina em obras do Estado do Rio. De fato não houve menção [a propina no município]. Se os colaboradores tiverem omitido com a verdade, eles perdem os benefícios”, disse o procurador Eduardo El Hage, coordenador da Lava Jato no Rio.
De acordo com o relato de Ramos Junior, o ex-secretário lhe passou o contato de Anuar Karam, executivo da empreiteira, para organizar a forma de recebimento. O empresário disse ter sido recebido na sede da Andrade Gutierrez por Karam e outro executivo, Miguel Barreiros.
Junior declarou que firmou um contrato fictício com uma de suas empresas com a Zagop Gulf, companhia da Andrade Gutierrez sediada em Abu Dhabi. O valor inicial, em julho de 2013, era de US$ 520 mil -R$ 1,22 milhão em valores da época-, tendo sido duplicado em janeiro de 2014 -chegando a R$ 2,44 milhões.
Os recursos transitaram por mais uma empresa até ser depositada na conta da Centovali, num banco em Mônaco.
Houve ainda um recebimento de R$ 500 mil via operação dólar-cabo em 2014. Segundo Ramos Junior, o executivo Miguel Barreiros indicou uma casa de câmbio num shopping da Barra da Tijuca para a retirada dos valores.
A suspeita é de que a propina tenha sido paga em troca de um lota da obra da Transcarioca, via prometida para a Copa do Mundo.
O responsável por operacionalizar as duas operações foi o doleiro Juan Bertran, também preso na operação desta terça. Ele era o responsável por movimentar o dinheiro no exterior para Ramos Junior, laranja de Pinto.
‘CAIXA 2’
O empresário declarou ao Ministério Público Federal que foi o responsável por entregar dinheiro vivo para outras empreiteiras, tais como OAS e Odebrecht. O esquema de Ramos Junior era semelhante ao do empresário Adir Assad, que firmava contratos fictícios com as empreiteiras para devolver parte do recurso em espécie.
Ramos Junior disse que usou uma conta no Uruguai para fazer, junto com o doleiro Bertran, a “geração de caixa dois” para a OAS. A proposta foi feita por Leonardo Barcellos, executivo da empreiteira, segundo o relato.
O empresário disse ainda que foi apresentado ao doleiro por um ex-auditor da Receita Federal. De acordo com o Ministério Público Federal, Bertran movimentou em suas contas no exterior US$ 11,7 milhões e 3 milhões de euros, entre outubro de 2011 e dezembro de 2014, recurso enviados apenas por Ramos Junior.
(Folhapress)
Foto: Ricardo Borges/Folhapress