Alckmin diz apoiar Doria, que bate boca com França


No capítulo que se seguiu à definição de João Doria como candidato do PSDB ao governo de São Paulo, o governador Geraldo Alckmin declarou nesta segunda (19) apoio ao prefeito, que não poupou críticas ao vice de Alckmin, Márcio França (PSB) -que, por sua vez, partiu para cima de Doria.
As declarações pós-prévias do PSDB já demonstram o terreno sensível que Alckmin irá pisar em São Paulo, onde terá um duplo palanque nas eleições deste ano.
“O candidato do meu partido é o João Doria. Portanto, estaremos juntos”, disse o governador ao ser questionado nesta segunda, em evento, se estará ao lado do tucano ou de seu atual vice-governador.
Até o fim de semana, Alckmin se mantinha reticente em declarar apoio a Doria, de quem foi padrinho político. A relação dos dois ficou estremecida após o prefeito de São Paulo ter flertado com a ideia de concorrer ao Planalto ainda neste ano.
Em um evento separado, Doria disse ter recebido um telefonema de Alckmin pela manhã afirmando que os dois estarão juntos e que já combinaram de se encontrar até o fim desta semana para combinar o “alinhamento” das campanhas.
“A partir de 7 de abril [depois de deixarem os atuais cargos], faremos campanha juntos aqui na capital, na região metropolitana, no litoral e no interior de São Paulo”, disse o prefeito ao inaugurar parte da Praça 14 Bis, no centro de São Paulo, restaurada.
Quanto a França, que assumirá o governo em abril com a saída de Alckmin e concorrerá à reeleição por seu partido, o PSB, o prefeito disse estar em um “campo oposto”.
“Estamos em campos opostos, principalmente depois de ele [França] receber o apoio explícito –e agradecer– do PDT do Ciro Gomes, do PC do B e também [pelo fato] de o seu próprio partido, o PSB, estar alinhado com o PT nas regiões Norte e Nordeste do país, e em outras regiões, defendendo o [ex-presidente] Lula ou outros criminosos do PT”, disse Doria.
Questionado se esse conflito com França não seria um problema para Alckmin, o prefeito disse que, para ele, não seria. “Não sei se é um problema para o governador Alckmin, mas para mim não é um problema. É muito clara a minha visão: eu não me alio a ninguém de esquerda nem da extrema direita.”

PALAVRA
Um pouco antes, França criticara o prefeito por “não cumprir a palavra”. “Ele deu a palavra a todos nós paulistanos de que cumpriria o mandato dele. À medida que não cumpre, as pessoas ficam desconfiadas. Acho que isso vai ter uma consequência grande pra ele”, declarou em um evento com prefeitos.
A jornalistas, Doria respondeu que o julgamento se ele cumpriu ou não sua promessa como prefeito “não será feita por ele [França], mas sim pelo povo de São Paulo”.
França disse também nesta segunda que o fato de ter sido escolhido vice de Alckmin já mostra quem o tucano quer que continue seu governo. Ele afirmou já ter convidado o atual governador para participar das inaugurações após ele deixar o cargo. “Ele já aceitou inaugurar as obras dele enquanto a legislação permitir.”
Apesar de declarar apoio a Doria, Alckmin também elogiou o vice publicamente nesta segunda: “O Márcio França está preparado para assumir o governo de São Paulo. Quatro anos nos acompanhando, uma candidatura extremamente legítima, vai ser governador de São Paulo [depois de abril].”

CAMPANHA
No evento de inauguração da praça 14 Bis, Doria foi chamado mais de uma vez de “governador” pelo público presente.
Questionado sobre como evitar que, nos próximos 20 dias que tem até até deixar o cargo, eventos como esses não sejam interpretados como atos de campanha, Doria discutiu com uma repórter do portal UOL.
“Vocês gostam de forçar muito a barra. Não há nenhuma campanha eleitoral, estou inaugurando uma praça pública aqui”, disse. “Era só que faltava, vocês querem censurar o povo também? Já não basta a censura em relação a mim, agora você, o UOL, quer censurar e penalizar o povo. É isso que vocês querem?”, completou.

(Folhapress)
Foto: Fábio Vieira/FotoRua/Folhapress