Locais públicos são campeões de agressões a LGBTs em SP

Ae / Montagem: Rogério Hanssen
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Wellington Alves

Em janeiro, o depoimento da agressão sofrida pelo jovem Guilherme Lima, de 21 anos, viralizou no Facebook. Ele contou que foi atacado por três homens dentro do Terminal São Mateus, na zona leste de São Paulo. Seguranças e motoristas teriam visto a cena, sem interferir. O garoto foi vítima de violência apenas por ser homossexual. Esse relato poderia ser exceção, mas, infelizmente, é cena comum na cidade de São Paulo.

Levantamento da Rede Nossa São Paulo, divulgado ontem, aponta que 37% dos paulistanos presenciaram preconceito a LGBTs em locais públicos e transportes. A pesquisa “Viver em São Paulo: Direitos LGBTQI+” foi realizada junto ao Ibope Inteligência. Foram 800 entrevistados entre 3 e 23 de abril. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro é de 3% para mais ou para menos.

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública já tinha apontado esse problema. Em 2017, houve 1.720 denúncias de lesão corporal, homicídio e tentativa de homicídio contra gays, sendo que 15% dos casos ocorreram no Estado de São Paulo.

Além dos espaços públicos e transportes, há grande índice de agressões em escolas/universidades (32%), shoppings/comércios (31%), bares/restaurantes (31%), trabalho (30%) e família (28%). Para o coordenador da Rede Nossa São Paulo, Américo Sampaio, essa cultura de violência revela que é falsa a ideia de que a capital paulista é acolhedora com todas as pessoas, por ter populações de diferentes estados, países e gêneros. “É uma pluralidade que gera animosidade entre os diferentes, que não convivem bem”, avalia.

Na pesquisa, 70% dos entrevistados considerou que a Prefeitura de São Paulo pouco faz para combater a violência contra o público LGBT. Neste quesito, a maior insatisfação fica entre os moradores da zona leste. Para Sampaio, a gestão municipal precisa investir em campanhas de conscientização e utilizar a estrutura da Guarda Civil Municipal (GCM) para coibir casos de violência, além de ter atenção aos ônibus municipais.

“Agressões ocorrem porque saímos do armário”

No próximo domingo, São Paulo realiza a 23ª edição da Parada do Orgulho Gay, que deve reunir 3 milhões de pessoas na avenida Paulista. Para a presidente da ONG Apolgbt-SP, Claudia Regina, responsável pelo evento, as agressões contra LGBTs têm crescido porque esse público deixou de se esconder. “A comunidade saiu do armário. Ela se mostra mais.”

Claudia reclama que um casal homossexual pode ser alvo de ameaças apenas por andar de mãos dadas em São Paulo. Ela acredita que a cidade é conservadora e grupos religiosos extremistas tentam inibir a liberdade dos LGBTs. “A nossa comunidade não é mais pecadora do que qualquer um ou menos filho de Deus do que qualquer um.”

Na opinião da presidente da Parada, há risco de as agressões a homossexuais continuarem a crescer nos próximos anos. Ela espera maior rigor das autoridades de segurança do Estado na punição aos criminosos e mudanças nas leis, na esfera federal, para punir com rigor a LGBTfobia.

Intolerância cresce e especialistas culpam Bolsonaro

A percepção de que a cidade de São Paulo é tolerante com os homossexuais caiu 10% neste ano, apontou a pesquisa da Rede Nossa São Paulo. Se em 2018 metade dos paulistanos considerava que a capital paulista era tolerante, esse índice despencou para 40% neste ano. Na avaliação de especialistas, a gestão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) justifica essa mudança.

Bolsonaro é criticado há anos por comentários considerados homofóbicos. Segundo a pesquisa sobre violência no contexto eleitoral do ano passado, da ONG Gênero e Número, mais da metade (51%) dos gays sofreram pelo menos uma agressão durante o segundo semestre de 2018 em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Salvador. Entre os agredidos, apenas 3% apresentou denúncia à polícia.

Na opinião de Claudia, a postura do presidente favorece as agressões contra os homossexuais. “A sociedade é alimentada pela intolerância e pelo preconceito.” Sampaio também culpa o chefe do Executivo federal. “Ele (Bolsonaro) estimula e legitima o discurso de ódio contra LGBTs”.

Preconceito a homossexuais em SP

Espaços
públicos

37%

Transporte
público

37%

Escola/
faculdade

32%

Shoppings e
comércios

31%

Bares e
restaurantes

31%

Trabalho

30%

Família

28%

Banheiros públicos e de estabelecimentos privados

23%

*Os entrevistados podem ter visto violência em mais de um local.

Fonte: Rede Nossa São Paulo