Paciente espera prótese de joelho há três anos em São Paulo

Ivanildo Porto
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Wellington Alves – Fotos: Ivanildo Porto

Quedas, ferimentos e dor constante. Essa é a dura rotina do aposentado Antônio Ubaldo Silva, de 78 anos. Ele sofre com artrose no joelho esquerdo há três anos e possui dificuldade para se locomover. Sem conseguir uma cirurgia para implantar uma prótese, ele espera uma decisão judicial que possa agilizar o processo. O caso dele ilustra uma realidade que atinge milhares de idosos no país.

Silva nasceu na cidade de Dom Basílio, perto de Vitória da Conquista, no interior da Bahia. Veio para São Paulo em 1975 e se casou com Maria Dalva Caires Silva, 71, também aposentada. Os dois moram na rua Girassol Miúdo, no Parque São Lucas, na zona leste de São Paulo.

Os problemas de saúde de Silva começaram em 2003, com fortes dores no joelho esquerdo. Era artrose. Para não prejudicar a vida profissional, ele se submeteu a uma infiltração que aliviou o problema por alguns meses. Entretanto, a inflamação retornou. Silva fez sessões de fisioterapia para melhorar a mobilidade e fugia das consultas médicas. Com o tempo – e a velhice – a conta chegou.   

Com o joelho esquerdo inflamado, ele passou a ter dificuldades para caminhar. As quedas se repetiram e, atualmente, não consegue se levantar sozinho quando cai no chão. “Eu também não consigo levantar ele. É um drama. Preciso pedir ajuda de outras pessoas”, admite Maria Dalva. Os anti-inflamatórios também estão comprometendo o estômago de Silva. Sem retorno para conseguir a prótese, um médico deu uma sugestão ao aposentado. “Ou o senhor entra na Justiça ou não vai conseguir operar.”

Antônio ingressou com um pedido na Defensoria do Estado de São Paulo. O órgão assumiu o caso e processou a Fazenda Pública do Estado de São Paulo, cobrando a realização da cirurgia. A ação tramita no 9ª Vara da Fazenda Pública, desde 2 de abril, mas ainda não há decisão.

Dramas como o de Silva ocorrem em todo o país. De acordo com a Defensoria Pública da União, a espera por uma cirurgia de implantação de prótese pode demorar até dez anos. No Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), no Rio de Janeiro, por exemplo, maior hospital ortopédico do país, há mais de 12 mil pessoas na fila de espera.

Hospital não possui material, mas Estado se esquiva

Relatório de 16 de julho, assinado pelo médico Vitor Carvalho Barroso, do Hospital Ipiranga, confirma que o aposentado Antônio Ubaldo Silva aguarda “procedimento cirúrgico”, mas o equipamento de saúde está “sem material”.

Questionada, a Secretaria de Estado da Saúde não esclareceu qual é a fila de próteses nos hospitais paulistas. Em nota, o órgão informou que o paciente tem consulta agendada com o neurologista no dia 5 de agosto e segue acompanhado pela equipe de ortopedia da unidade.

“Cabe aos especialistas definir a conduta adequada para seu caso e ele será orientado sobre os próximos procedimentos”, informa o governo estadual, sem esclarecer a ausência de material para a cirurgia.

Artrose bem tratada pode evitar cirurgia

Muitos pacientes que esperam anos por cirurgia de implantação de prótese poderiam evitar os procedimentos se tivessem buscado tratamento no início dos sintomas. É o que garante Adriano Almeida, médico do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas.

A artrose é um problema comum para os idosos. Metade deles possuem a doença, sendo que o joelho é uma área constantemente afetada. “Artrose é o desgaste da articulação, que pode acontecer por envelhecimento, lesão dos ligamentos ou cartilagem, fator genético ou obesidade”, explica Almeida.

A cirurgia deve ser a última alternativa, mas nem sempre os pacientes têm acesso a tratamentos adequados, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS). “Nas fases iniciais, é adequado o paciente perder peso e fazer exercícios leves, como caminhada, para fortalecer os músculos e manter a mobilidade das articulações”, orienta.

A implantação de prótese no joelho é viável apenas em casos graves. “A prótese substitui a cartilagem por uma peça metálica.” Outra dica do especialista é evitar tomar medicação por conta própria. “A orientação médica é essencial”, comenta.