São Paulo está sem a vacina pentavalente e crianças ficam desprotegidas

Ivanildo Porto
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Wellington Alves – Foto: Ivanildo Porto

A imunização das crianças está comprometida na cidade de São Paulo. Os postos de saúde não contam com estoques das vacinas pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, a bactéria haemophilus influenza tipo B e hepatite B) há um mês. Essas vacinas são aplicadas aos dois, quatro e seis meses de vida das crianças.

Pais têm percorrido as unidades básicas de saúde (UBS) em busca das vacinas, sem êxito. O bebê da psicóloga Jéssica Elaine Pereira de Brito, 28 anos, completou quatro meses há duas semanas e até agora ela não conseguiu imunizar a criança. “Me avisaram que deveria esperar até o próximo mês para tomar junto com a próxima vacina. Se não tiver, continuar esperando.”

Preocupada, Jéssica buscou outros postos de saúde e até a rede privada, mas não conseguiu encontrar a vacina. “Eu fico decepcionada. Pago meus impostos e não posso dar a vacina para proteger o meu filho.”

A reportagem consultou as UBSs Bom Retiro, Água Rasa e Padre José de Anchieta. Em todas, a informação repassada foi de que não há prazo para a chegada de novo estoque. O problema se repete nas cidades da Região Metropolitana de São Paulo.

Questionada, a Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa) afirma que tem feito o remanejamento da vacina pentavalente, enquanto aguarda a liberação de um novo lote do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde. A expectativa é normalizar o abastecimento da pentavalente em outubro.

A falta de vacinas teria sido causada pela interdição de um lote com 3,2 milhões de doses da pentavalenta. Segundo o Ministério da Saúde, a normalização pode ocorrer a partir de setembro. De acordo com o governo federal, foram enviadas mais de 633 mil doses para o Estado de São Paulo neste ano.

Ivanildo Porto

Falta de vacina coloca crianças em risco

A vacina pentavalente é essencial para garantir a imunização das crianças e a ausência das doses representa um risco à vida delas. É o que garante o presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri.

De acordo com Kfouri, os primeiros meses de vida são os mais vulneráveis para os bebês e, por isso, os pais não devem atrasar a vacinação. O atual desabastecimento da pentavalente, na opinião do especialista, pode ser um incentivo para os pais que não querem vacinas os filhos. “A família falta ao trabalho para levar o filho ao posto de saúde e não encontra vacina. Perde a viagem, dinheiro e até emprego. Isso colabora para a baixar a cobertura vacinal”, opina.

Enfermeiros têm orientado os pais a voltarem após um mês e aplicar a pentavalente com outras vacinas que tiver no calendário. Para Kfouri, o problema dessa estratégia, além do atraso na imunização, é dar mais uma picada nos bebês.

Desperdício é comum nos postos de saúde

Além da falta de vacinas pentavalente, outro problema da rede pública de saúde é o desperdício das doses. No caso da vacina BCG, por exemplo, que é administrada nos primeiros dias de vida, cada lote tem dez doses. Após aberto, as doses do lote duram apenas seis horas – depois, precisam ser descartadas. Se não aparecerem dez bebês recém-nascidos, o destino das vacinas é o lixo.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que a aplicação da BCG é feita em dias e horários pré-estabelecidos para otimizar o uso do conteúdo do frasco. Os locais podem ser conferidos no link http://encurtador.com.br/nqG47.

Segundo Renato Kfouri, os lotes da BCG são comercializados dessa forma e o governo federal já prevê o desperdício. “É melhor perder algumas doses, mas garantir que a pessoa chegue ao posto de saúde e consiga vacinar o filho.”

Neste ano, os lotes da BCG tiveram uma redução de 20 para 10 doses. “A vacina de febre amarela chegou a ter 50 doses por lote. Agora são cinco. O desperdício se torna menor”, reconhece Kfouri.