Petrolão e mensalão eram uma coisa só, diz Pedro Corrêa a investigadores

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PAULA REVERBEL
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-deputado federal Pedro Corrêa, que cumpre pena de prisão pelo mensalão e é um dos condenados pelo petrolão, disse a investigadores que os dois esquemas são uma coisa só.
Ambos tratam da compra de parlamentares para formação de apoio ao governo -o que se conhecia do mensalão- com dinheiro de propina paga por empresários em troca de contratos públicos -o que se sabe do esquema na Petrobras, investigado pela Operação Lava Jato.
Segundo Corrêa, a indicação de cargos -na Petrobras e em outras empresas públicas, além de ministérios e secretarias- visa atender a demandas empresariais com o fim de arrecadar propina a partidos políticos e seus integrantes.
De acordo com o ex-deputado, em depoimento dado no último dia 1º, os valores são repassados a parlamentares e utilizados na manutenção do poder partidário nas esferas federal estadual e municipal, beneficiando inclusive deputados estaduais, prefeitos e vereadores. Corrêa afirmou que as indicações funcionavam da mesma forma nos governos Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula.
O ex-deputado, que já foi presidente do PP, afirmou ainda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Antonio Palocci sabiam que o dinheiro distribuído era vindo de propina e não de caixa dois. No relato feito aos procuradores, Lula tinha a convicção de que a propina arrecadada servia para que os políticos e suas bases eleitorais continuassem a integrar o governo, votando matérias de interesse do executivo no Congresso Nacional.
O ex-presidente petista foi denunciado pelo Ministério Público Federal nesta quarta-feira (14), que o acusa de comandar o esquema de corrupção na Petrobras.
De acordo com Corrêa, durante a formação do governo Lula, conversava-se abertamente sobre a necessidade dos partidos realizarem o mesmo esquema de arrecadação do PT -que recebia de empresas que prestavam serviços às prefeituras eleitas pelo partido- a fim de terem receita própria, já que o fundo partidário era visto como insuficiente para manter as siglas.
PAULO ROBERTO
Na colaboração, Pedro Corrêa relatou a novela referente à nomeação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, incumbido de conseguir propina para o PP. O caso só teria sido encerrado com a intervenção direta de Lula, que teria ameaçado demitir todos os conselheiros da Petrobras no início de seu governo.
Segundo o que foi dito a investigadores, o PP tinha interesse de nomear Costa, que já havia demonstrado que atendia os interesses do partido quando esteve na TBG (Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil). Ele foi diretor-superintendente da TGB entre abril de 2003 e maio de 2004. No entanto, havia um compromisso entre Palocci e o responsável pela transição do governo FHC para a preservação de Rogério Manso, antecessor de Costa, no cargo por mais um ano.
Diante do impasse, o ex-ministro José Dirceu teria tentado fazer com que o PP aproveitasse utilizar Manso para desempenhar a função de arrecadação de propina que depois ficou a cargo de Costa. Foram marcadas duas reuniões entre Manso e políticos do PP, mas nenhuma deu certo.
Na primeira, Manso se recusou a conversar com Corrêa, José Janene, e Pedro Henry -três líderes partidários do PP que seriam, anos depois, condenados no mensalão. Após telefonema de Dirceu, uma segunda reunião foi agendada entre Manso e o grupo de políticos, que passou a contar com a presença do então deputado João Pizzolatti (PP-SC).
Pizzolatti é hoje um dos alvos da Lava Jato. Segundo o termo de declarações de Pedro Corrêa, os políticos levaram um “chá de cadeira” e, sem seguida, receberam a seguinte resposta: “Entendi a ordem do ministro José Dirceu, só que não fui nomeado para este cargo para cumpri-la”.
Com a falta de cooperação, o PP indicou Costa para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras e, diante de uma espera de meses pela nomeação, ajudou outros partidos da base aliada a obstruir a pauta da Câmara dos Deputados, por cerca de três meses. Nesse período, 17 medidas provisórias trancaram a pauta, segundo o termo de declarações. A situação só avançou, segundo Corrêa, após reunião entre ele, Lula, Pedro Henry, Janene, o ex-ministro Aldo Rebelo, Dirceu e o então presidente da Petrobras José Eduardo Dutra.
Dutra, disse Corrêa, foi incumbido por Lula de avisar os conselheiros da Petrobras de que seriam trocados se a nomeação de Costa não saísse dentro de uma semana.
DINAMO
Corrêa também relatou o recebimento de propina da destilaria Dinamo, que fechou com contrato de R$ 45 milhões com a Petrobras no início do governo Lula. Os valores, referentes a 5% do valor do contrato, teriam sido rateados entre Paulo Roberto Costa, o ex-assessor do PP João Cláudio Genú, o publicitário Marcos Valério e o PP.