Gestão Doria esconde moradores de rua e ‘limpa’ praça no centro de SP

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Moradores de rua que vivem na praça 14 Bis, na região da Bela Vista, centro de São Paulo, acordaram ouvindo ordens: “Saiam daqui, se não o ‘rapa’ vai tirar vocês. A quadra está liberada para todos”.
A quadra fica sob o viaduto Dr. Plínio de Queiroz, cercada por grades, e faz parte de um espaço onde muitos moradores de rua já estão assentados. Nesta quinta (5), como revelado pelo “G1”, a prefeitura pendurou uma tela verde nas grades, que esconde a maloca de quem passa por fora.
Os moradores de rua dizem que a orientação para sair da praça veio de um homem chamado Adriano, que se recusou a dar entrevista para a Folha de S.Paulo. Mas a secretária de Assistência e Desenvolvimento Social da gestão João Doria (PSDB), Soninha Francine, confirma que ele está trabalhando como voluntário na abordagem a moradores de rua, que ela deseja contratá-lo para trabalhar no gabinete e que ele de fato foi avisar moradores de rua “que eles não vão poder continuar na calçada”.
“Sobre a calçada, não se pode ficar. Mesmo. Não com barraca ou de outro modo que seja perigoso pra eles ou para os pedestres”, diz Soninha. Ela afirma também que a lona foi pendurada para “a proteção deles”.
Moradores da região pedem a saída das pessoas que vivem nas calçadas. Eles fizeram o pleito em uma reunião com dois representantes dos moradores de rua, da GCM e com Soninha na terça (2). Ficou acordado que em até seis meses a prefeitura encontraria uma solução para retirar todos os moradores de rua do espaço -são 55, segundo uma assistente social que os acompanha.
Nesta semana, um estacionamento irregular sob o viaduto foi liberado pela prefeitura -os carros foram retirados de lá, deixando o espaço vazio.
Desde domingo (1º), a prefeitura tem limpado a praça 14 Bis e as regiões no entorno, na av. Nove de Julho, para o programa de zeladoria urbana de João Doria (PSDB), o Cidade Linda. O próprio tucano inaugurou o programa na praça na segunda (2), quando posou para fotógrafos vestido de gari com uma vassoura em mãos, em um gesto que durou poucos segundos.
Naquele dia, alguns moradores de rua foram orientados a sair da calçada para dar espaço à limpeza, mas também foram informados de que poderiam voltar para o mesmo lugar depois. Um carro da GCM (Guarda Civil Metropolitana) está estacionado desde aquele dia na praça -e sua presença ali já havia provocado a migração de moradores como Sara Vaz, que diz viver na região há 13 anos, para um espaço ao lado da quadra.
A movimentação desta sexta (5) causou confusão entre moradores de rua, que se juntaram em um espaço fechado e menor do que estavam -quem já vivia ali reclama dos que estão chegando. Alguns disseram querer tirar a lona pendurada pela prefeitura.
“Querem esconder a gente”, diz Willian Davi da Silva, 25, que dorme na praça 14 Bis e faz bicos como garçom e marceneiro. “Fui no mercado de manhãzinha e, quando voltei, foi essa confusão toda. Mandaram a gente sair porque o ‘rapa’ ia chegar.”
Uma moradora de rua que “migrou” da rua para o espaço cercado embaixo do viaduto disse ter gostado da mudança. “Pelo menos aqui estamos protegidos, temos teto”, afirmou ela, que não quis ser identificada.

JULIANA GRAGNANI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)