Folião descamisado sofre com veto no metrô e até multa em condomínio

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Um folião de sunga dourada e peito coberto somente por glitter tenta conversar com um segurança do metrô Faria Lima que barra sua passagem pela catraca.
“Mas como eu vou voltar pra casa, amigo?”, ele pergunta. O funcionário dá de ombros: “Sem camisa não pode”. A cena, ocorrida no sábado de pré-Carnaval, ilustra as agruras práticas de quem quer pular o Carnaval paulistano de peito aberto.
Minotauro, arbusto, flamingo, girafa. O arquiteto Fabricio Cervelin exercitou a criatividade para bolar fantasias que mostrassem na folia seu corpo tão exercitado quanto. Em comum, as alegorias têm apenas o fato de dispensarem o uso de camisa. Mas a nudez parcial só é praticada na rua.
“Todos os looks têm de ser pensados com uma regatinha, porque você vai ser barrado em padarias, alguns bares, fora no próprio prédio.”
Então Cervelin, que já levou uma chamada de atenção de segurança do Metrô, concebe suas fantasias com uma peça a mais.

DÚVIDA
A estudante Izabella Pignatti, 22, tem usado durante o Carnaval fantasia de Anitta. Segundo ela, no único comércio que tentou entrar, foi impedida. “Falaram que não podia entrar sem blusa.”
Nesta segunda (12), no caminho até o bloco, a estudante usava uma camiseta.
A sonoplasta Carol de Kim pensou em adotar o top de biquíni como uniforme oficial da folia em 2018. Mas ficou reticente. “Saí de shortinho e top de biquíni de lamê. O motorista do aplicativo fez piada de mal-gosto”.
Não bastassem os olhares que ela sentiu de uma pessoa ou outra na rua, quando chegou em casa percebeu comentários de outros moradores no elevador. E recebeu uma advertência.
A carta, entregue aos condôminos, aconselha a “evitar constrangimentos, evite circular com trajes de banho e pijamas ou sem camisa”.
Há edifícios como o Viadutos, na Bela Vista, que alertam o folião antes de aplicar multa. O revés, porém, veio sem aviso para o designer Alexandre Ferraz, 34, que mora na alameda Lorena.
Ele narra ter chegado em casa às 22h do feriado de aniversário de São Paulo, dia 25 de janeiro. Voltava do show de Anitta, no centro, com uma saia de bailarina rosa sobre os shorts e mais nada. “Perdi a camiseta em algum momento, porque fiquei o dia todo sem mesmo, pulando.”
O porteiro avisou que ele não poderia passar nas áreas comuns descamisado.
Perguntou se ele não queria pedir para um vizinho descer com toalha para ele se enrolar. Ferraz insistiu e assumiu o risco. Dois dias depois, lá estava a multa, no valor de meio condomínio (R$ 480).
“Não tem o que apelar. Regra é regra. Eu devia é ter subido meu ‘tutu’ [a saia] e improvisado uma camiseta.”
O advogado Carlos Lima, especializado em questões condominiais, confirma que a regra vigente é a acordada na convenção do prédio.
“É questão de bom senso, dificilmente um juiz daria ganho de causa para alguém que andou sem camisa na área comum, se essa pessoa resolvesse ir para a Justiça.”
Voltando à discussão entre o homem de sunga e o segurança no transporte público.
O Metrô afirma em nota que proíbe “a entrada ou permanência em suas dependências de pessoas em traje de banho ou sem camisa”.
Depois de uns minutos de bate-boca, o homem de sunga dourada desistiu e voltou para o bloco.

(Folhapress)
Foto: Jardiel Carvalho/Folhapress