Moradores de Pinheiros barram Asfalto Novo, e gestão tucana recua

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Moradores de Pinheiros impediram que a Prefeitura de São Paulo cobrisse de asfalto os paralelepípedos de uma tradicional rua da região. A gestão municipal chegou a despejar pó de pedra, mas foi interrompida antes que encobrisse pedaço da rua Simão Alvares entre as vias Teodoro Sampaio e Artur de Azevedo.
A ação começou perto da meia-noite, horas depois de João Doria (PSDB) passar o comando da prefeitura a Bruno Covas (PSDB) para concorrer ao governo do estado.
Avisados pela funcionária de um restaurante e mobilizados por meio das redes sociais, os moradores entraram na frente dos caminhões e, após conversas com os funcionários encarregados do asfaltamento, conseguiram que a obra parasse. Ainda é possível ver resquícios da ação no início da tarde deste sábado (7).
“Temos um grupo bastante unido na defesa do espaço. Os prédios da Hípica [localizados na Simão Alvares], inclusive, foram tombados recentemente. Já tínhamos um entendimento com o prefeito  regional anterior, o Paulo Mathias, de que não haveria asfaltamento ali”, diz a publicitária Fernanda Salles, uma das primeiras a chegar no local para interromper a ação.
Ela diz que funcionários da prefeitura já vinham tirando medidas da rua desde o lançamento do programa Asfalto Novo, no final do ano passado. Prioridade do ex-prefeito Doria, e que será assumida por Covas, o projeto tem orçamento de R$ 550 milhões, mais do que a expectativa de investimentos em saúde ou educação em 2018.
Proprietário do sebo Desculpe a Poeira, em rua perpendicular à Simão Alvares, Ricardo Lombardi conta que os paralelepípedos são motivo de negociações contínuas com a prefeitura.
“A atual gestão tem o argumento de que não tem mais mão de obra especializada para cuidar de ruas como essa, que tem paralelepípedos desde a década de 1950. Mas é questão de contratar uma empresa que faça, então”.

PARALELEPÍPEDOS
Lombardi resume os motivos que os moradores têm para valorizarem a preservação da rua tal como está.
“Primeiro, há uma questão de patrimônio histórico. Essa parte e outras da cidade são preservadas, e os habitantes de São Paulo podem enxergar como a cidade era décadas atrás. Em uma cidade que tem tendência para derrubar e construir, aqui conseguimos preservar. Segundo, os paralelepípedos têm função ecológica: com eles a rua absorve água da chuva muito mais rapidamente do que com asfalto. Terceiro, obriga os carros a irem mais devagar em uma região com muitos pedestres e crianças”.
Conselheira participativa de Pinheiros e proprietária de um restaurante polonês na Simão Alvares, Veronica Bilyk diz que teve uma “sensação muito ruim” durante o ocorrido e pretende buscar mais garantias de que a prefeitura não repetirá a dose.
“O Paulo Mathias já havia nos garantido que isso não aconteceria e já tinha reconhecido a exceção. Isso tem que continuar. Queremos isso de forma escrita, oficial”, diz. Veronica também manifesta intenção de fazer com que a rua seja tombada com os paralelepípedos.
Os moradores procuraram a prefeita regional de Pinheiros, Juliana Ribeiro, que assumiu o cargo com a saída de Mathias no final de março para disputar eleições, mas não tiveram resposta.
O antigo prefeito regional respondeu a eles que o compromisso de sua gestão estava mantido, que havia conversado com Juliana e que o asfaltamento havia sido um “engano”.

DESISTÊNCIA
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de São Paulo disse que “por conta da demanda da população, o serviço de asfaltamento foi paralisado pela Prefeitura Regional Pinheiros e será realizada a remoção até o final do mês.”

(Folhapress)
Foto: Arquivo pessoal