Documentário relembra história da Cinelândia em SP

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Houve uma época, cuja memória está quase perdida nesses dias de multiplex segregados, em que ir ao cinema era uma maneira de se relacionar com a cidade.
Em São Paulo, esse foi o período de salas como Art Palácio, Broadway, Comodoro, Marabá, Metro, Marrocos e Ritz. Da chamada Cinelândia paulistana, concentrada nas avenidas São João e Ipiranga, especialmente entre o largo do Paissandu e a praça Júlio Mesquita.
É desse espaço e dessa época que trata o documentário “Quando as Luzes das Marquises se Apagam”, de Renato Brandão, atração do festival É Tudo Verdade. A partir de entrevistas, imagens de arquivo e cenas do pouco que restou dos lugares de outrora, o longa repassa cronologicamente a história do cinema na capital paulista.
Começa no tempo das projeções ambulantes (fim do século 19), passa pela ascensão (entre 1930 e 1940), auge (nos anos 1950 e 1960) e decadência (de 1970 em diante) dos cinemas de rua, hoje praticamente extintos.
Editado de modo bastante esquemático, o que denuncia suas origens universitárias -foi feito como projeto de conclusão do curso de jornalismo na ECA-USP-, o longa vai listando as salas e suas características peculiares.
Por exemplo, o UFA (depois Art) Palácio, inaugurado em 1936 com projeto de Rino Levi (1901-1965) e dinheiro dos nazistas alemães, que estabeleceu parâmetros internacionais de qualidade.
Ou o Metro, que trouxe o padrão uniforme das redes americanas e fez fama com seu ar condicionado e seus banheiros brancos e espelhados, um dos programas mais chiques da cidade.
Os registros de época são parcos e pouco variados, mas permitem ter alguma noção da grandiosidade das salas.
Diferentemente de hoje, quando não se fazem espaços com mais de 500 poltronas, naquela época os locais não eram viáveis comercialmente com menos de 1.500.
A narrativa passa muito rapidamente pelos dois principais nomes do circuito: o pioneiro espanhol Francisco Serrador (1872-1941), criador das Cinelândias do Rio e de SP, e seu primeiro concorrente, Paulo Sá Pinto (1912-1991), com sua Companhia Paulista, depois Empresa Sul.
A parte mais interessante do filme trata da Cinelândia como reflexo da história do centro. Ela surgiu no momento de verticalização e decaiu quando o centro deixou de ser espaço da elite.
Também foi afetada, é claro, pela disseminação da TV e fatores econômicos -em 1952, o salário mínimo equivalia a 148 ingressos; em 1971, comprava 61-, que o filme não aprofunda.

QUANDO AS LUZES DAS MARQUISES SE APAGAM
PRODUÇÃO: Brasil, 2018.
DIREÇÃO: Renato Brandão
ONDE É tudo Verdade: em SP, dia 20, às 17h, no CCSP, e dia 21, às 17h, no Sesc 24 de Maio, e no rio, dia 22, às 16h, no IMS Rio, Grátis
AVALIAÇÃO Bom

(Folhapress)
Foto:  Reprodução / Atílio Santarelli / Antonio Ricardo Soriano