Pichação política ganha força em ruas muros, paredes e até ciclovias em SP

SÃO PAULO, SP, 02.09.2016: PROTESTO-IMPEACHMENT - Pichação com a escrita ''Fica Dilma'' vista na rua Adrubal do Nascimento, na Bela Vista, região central da capital paulista, nesta sexta-feira (2). (Foto: Fábio Vieira/FotoRua/Folhapress)
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MENSAGEM – Na avenida Paulista, próximo ao prédio da Fiesp, o “Fora, Dilma” predominou. Ali, um grupo que pedia saída da então presidente Dilma (PT) acampou por meses

Os últimos anos da história do Brasil estão quase todos contados nos muros de São Paulo: “Fora, Temer”, “Fora, Dilma”, “Fora, Cunha”, “Fora, corruptos”, “Fora todo mundo”, “Golpistas”, “Escola de Luta”, “Aborto Livre”, “Fora PM”.

Pichações como essas, com mensagens mais políticas, voltaram às paredes da cidade com mais força nos últimos tempos – reflexo do aumento das manifestações e do conturbado jogo político.

Na avenida Paulista, próximo ao prédio da Fiesp, o “Fora, Dilma” predominou. Ali, um grupo que pedia saída da então presidente Dilma Rousseff (PT) acampou por meses. A ciclovia também apareceu pichada esta semana.

Já no centro antigo, o presidente Michel Temer (PMDB) ganha de lavada: após o processo de impeachment de Dilma, o “Fora, Temer” e a palavra “golpista” estão em centenas de paredes da região.

Outras discussões dos últimos anos também viraram hits: “Fora, Cunha” (contra o ex-deputado Eduardo Cunha, do PMDB, cassado pela Câmara), frases feministas e pró-aborto, contra a Polícia Militar e reajustes das tarifas, e referências às ocupações de escolas estaduais por alunos.

Essas marcas políticas são bastante diferentes das inscrições tradicionais da cidade, conhecidas como “tag reta” – letras retas e longas, que lembram a caligrafia gótica. O escrito geralmente tem o nome do pichador ou de seu grupo, acompanhado do número do ano em que foi feito.

“Essa pichação política não é feita por pichadores especializados”, diz Pedro Filardo, mestre em urbanismo pela USP e pesquisador da área.

“Elas são feitas para serem lidas facilmente. Os outros pichos muitas vezes só são decifráveis por pessoas que fazem parte de um grupo de pichadores”, diz o sociólogo Sérgio Miguel Franco, que fez a curadoria de uma mostra sobre a pichação paulistana na Bienal de Berlim, em 2012.

Outra diferença das “pichações políticas” são os locais onde são pintadas. Os pichadores “profissionais” normalmente escrevem em lugares mais altos, como no topo de prédios, para dificultar que as letras sejam apagadas. “Já a pichação política fica em lugares mais baixos. Por isso, elas são mais efêmeras, duram pouco”, explica Filardo. “São feitas no calor da manifestação, por um grupo que quer deixar pública sua indignação”, diz Franco.