Crise no Mercosul leva Paraguai a chamar embaixador na Venezuela

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LUCIANA DYNIEWICZ
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Em um indicativo de que a crise do Mercosul só se agrava, o governo do Paraguai convocou para consultas seu embaixador na Venezuela, Don Enrique Jara Ocampos.
A medida, tomada na manhã desta sexta-feira (5), demonstra o descontentamento do governo de Horacio Cartes com as afirmações feitas pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
Na noite de quarta (3), o dirigente disse que a Venezuela é perseguida pela “tríplice aliança de torturadores” da América do Sul, formada pela “oligarquia paraguaia corrupta e narcotraficante, pelo enfraquecido [presidente Mauricio] Macri, da Argentina, fracassado e repudiado por seu povo, e agora pela ditadura imposta no Brasil.”
Maduro fez a afirmação em resposta à posição de Brasília, Buenos Aires e Assunção de não o aceitarem como presidente do Mercosul. O bloco está sem comando há uma semana, quando o Uruguai deu por encerrado seu período de liderança e a Venezuela se autoproclamou presidente -pela regra, a liderança do grupo muda a cada seis meses em ordem alfabética.
O embaixador paraguaio, Eladio Loizaga, disse na noite desta quinta (4) à Folha de S.Paulo, antes de chamar para consultas o embaixador na Venezuela, que não é possível dialogar em um ambiente de provocação.
“Houve e há paciência, mas estamos em um momento em que a linguagem está muito pesada. Antes de mensagens conciliadoras, estamos vendo mensagens de provocação”, acrescentou.
Representantes dos quatro membros fundadores do bloco (Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai) se reuniram na quinta em Montevidéu na tentativa de resolver o impasse, mas não chegaram a um acordo nem encontraram uma forma de manter as atividades do grupo sem um líder.
Sem um presidente, o Mercosul poderá atrasar negociações internacionais com terceiros, congelar a implementação de acordos firmados com outros países e impedir novas parcerias do bloco. Decisões operacionais de comércio exterior, como reduções de tarifas, com impactos no setor privado, também poderão ser adiadas.
A crise no grupo se arrasta há alguns meses porque Paraguai, Brasil e Argentina se opõem a Maduro com a justificativa de que seu governo não respeita direitos humanos, mantendo presos políticos de oposição.