Polícia faz operação contra tráfico na cracolândia e mira grupo de sem-teto

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ROGÉRIO PAGNAN, ARTUR RODRIGUES, PAULO GOMES E FABIANO MAISONNAVE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A polícia de São Paulo realiza na manhã desta sexta-feira (5) uma grande operação de combate ao tráfico de drogas na cracolândia, no centro de São Paulo, com a participação de policiais civis e militares.
Serão cumpridos pelo menos 19 mandados de prisão. Entre os alvos estão lideranças do MSTS (Movimento Sem-Teto de São Paulo) que, segundo investigação do Denarc (departamento de narcóticos), coordenavam a venda de crack e maconha, respectivamente, na cracolândia e na Galeria do Rock, também no centro.
A partir da investigação feita nos últimos meses, a suspeita da polícia é que pessoas alvo da operação atuem em sintonia com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
O grupo alvo da operação, segundo investigadores do Denarc, é um dos quatro grandes mapeados na cracolândia, todos ligados ao PCC, e responsável pelo comércio de 100 kg a 150 kg de crack por mês na região.
Com base em interceptações telefônicas feitas com autorização da Justiça, a polícia suspeita da vinculação do MSTS no suporte logístico da facção e do comércio de drogas na cracolândia. O grupo, criado em 2012 a partir de um racha em grupos sem-teto, também é investigado sob suspeita de extorquir famílias sem moradia.
O movimento foi responsável pela invasão do antigo Cine Marrocos em 2013. A suspeita do Denarc é de que os últimos andares do imóvel serviria para realização de reuniões do crime organizado, assim com uma hospedaria da rua Dino Bueno, no chamado “fluxo” da cracolândia (onde os usuários de drogas se concentram).
Nos últimos dias, outras seis pessoas já haviam sido presas, e uma delas aceitou ajudar os policiais para apontar os chefes do tráfico e os códigos usados por eles nos telefonemas. Entre os alvos de mandado de prisão estão Robinson Nascimento dos Santos, coordenador-geral do MSTS, Lindalva Silva, vice-presidente do movimento, além do secretário-geral, Wladimir Ribeiro Brito, e da tesoureira, Elenice Tatiane Alves.
CINE MARROCOS
Dezenas de policiais do Choque e da Polícia Civil tomaram o antigo Cine Marrocos, na região central de São Paulo, por volta das 8h30 desta sexta dentro da operação contra o tráfico de drogas.
Os dez primeiros andares do Cine Marrocos abrigam cerca de 300 famílias, que são obrigadas a pagar R$ 200 mensais ao grupo, como revelou a Folha de S.Paulo em outubro de 2015. A investigação suspeita que esse dinheiro também era utilizado para compra de droga.
A cracolândia já foi alvo de uma série de operações das gestões Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Haddad (PT) nos últimos anos, mas que não conseguiram impedir a concentração de usuários de crack e a presença dominante do tráfico.
Na região, Estado e prefeitura desenvolvem programas diferentes voltados aos dependentes. O programa De Braços Abertos, criado em 2014 pela gestão Haddad, é baseado na redução de danos. O dependente é incentivado, pela oferta de emprego e renda, a diminuir o uso de drogas, sem necessidade de internação.
O Recomeço, instituído por Alckmin em 2013, trabalha a saída do vício com tratamentos que incluem isolamento em hospitais e comunidades terapêuticas.