Frente Brasil Popular convoca manifestações contra o que chama de ‘governo golpista’


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Logo depois que o Senado aprovou o impeachment de Dilma Rousseff (PT), a Frente Brasil Popular, que reúne movimentos de esquerda, divulgou uma carta aberta à petista afirmando que a maioria dos senadores “dobrou-se à fraude e à mentira” e impôs “governo usurpador”, ao aprovar “um golpe parlamentar contra a Constituição, a soberania popular e a classe trabalhadora”.
“As forças reacionárias, ao interromper vosso legítimo mandato, impuseram um governo usurpador, que não esconde seu perfil misógino e racista. Atropelaram o resultado eleitoral, condenaram uma mulher inocente e sacramentaram o mais grave retrocesso político desde o golpe militar de 1964”, diz o texto.
A carta convoca os que participaram das manifestações contra o impeachment a “resistir” ao “governo golpista” e aponta o discurso de oposição à gestão Michel Temer. “Os golpistas querem, entre outras medidas, reduzir investimentos em saúde, educação e moradia, eliminar direitos trabalhistas, acabar com a vinculação da aposentadoria básica ao salário mínimo, enterrar a reforma agrária e esvaziar programas sociais.”
“Hoje a resistência apenas começa. Nas ruas e nas instituições. Nos locais de estudo, trabalho e moradia. Mais cedo do que pensam os usurpadores, o povo brasileiro será capaz de rechaçar seus planos e retomar o caminho das grandes mudanças”, afirma o documento.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse que “o impeachment, não há como negar, é traumático”, mas “consolida o processo democrático”.
O tucano defendeu reformas. “Tem que retomar rápido [a economia]. Pois se você crescer de pouquinho em pouquinho, você não retoma o emprego, já que há ociosidade na indústria. Tem que retomar rápido, fazer reformas rápidas e investir muito na construção civil, saneamento, infraestrutura, logística, moradia popular”, afirmou.
A FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) também divulgou documento em que pressiona o novo presidente, Michel Temer, a efetivar as reformas fiscal, da Previdência e política, além de um novo processo de privatizações, “ainda mais ousado do que o ocorrido na década de 1990”. A entidade disse que, por não ter compromisso político, “a princípio”, de reeleição, Temer “estará isento de pressões para tomar as medidas, muitas vezes, impopulares”.
O partido Solidariedade, do deputado Paulinho da Força (SP), um dos principais algozes de Dilma, comemorou o impeachment como “ponto final nos desmandos com o bem público”. “O Brasil encerra um capítulo vergonhoso, que levou o país à mais grave crise de sua história. A partir de hoje, a ex-presidente Dilma é página virada do cenário político e econômico”, disse a legenda, em nota.
Procurado pela reportagem, o MBL (Movimento Brasil Livre) elogiou o impeachment mas criticou a manutenção dos direitos políticos de Dilma. Fernando Holiday (DEM), um dos líderes nacionais do grupo, classificou as decisões do Senado como “uma sentença incompleta”.
“É uma incoerência completa. É um absurdo sem precedentes porque o senado acabou de definir que a presidente da República é culpada pelo crime de responsabilidade, porém, disseram que ela não deve pagar pelo que a lei prevê, que seria com ilegibilidade por oito anos”, argumenta. O MBL foi um dos principais organizadores dos protestos a favor do impeachment realizados em 2015 e neste ano.