SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Michel Temer se disse contrário ao reajuste salarial de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), previsto em um projeto em tramitação no Senado.
“Isso daí gera uma cascata gravíssima”, afirmou, em entrevista concedida ao jornal “O Globo” publicada neste domingo (11). “Os telefonemas que eu recebi dos governadores foram: ‘Pelo amor de Deus, Temer, não deixa passar isso’.”
Segundo o presidente, os aumentos a outras categorias aprovados recentemente resultaram de “acordos firmados em escrito pelo governo anterior”.
Na entrevista, Temer diz que foi “cauteloso” em sua interinidade e que agora, depois de ter tomado posse definitivamente, vai ser “mais presidente” -e “tomar decisões que devem revelar autoridade”.
Ele reafirmou que seu governo não abrirá mão do projeto que cria um teto para os gastos públicos e não fixou uma data para a aprovação da reforma da Previdência, prometendo uma “campanha de convencimento” para lidar com o desgaste do processo.
“Acho que não se consegue aprovar cedo. Vamos mandar [o projeto], vai ter movimento de rua e vai levar tempo”, disse. “Duvido que se discuta se tiver segundo turno nas eleições municipais.”
Segundo o presidente, as duas medidas são fundamentais para recuperar a economia do país. “Quando aprovarmos o teto de gastos, encaminharmos a reforma da Previdência e ela começar a se processar no Congresso, o país vai crescer. Crescendo, cresce a arrecadação. Se cresce a confiança, cresce a arrecadação, cresce a estabilidade social.”
Temer disse ao jornal “O Globo” que vê as manifestações contra seu governo “com naturalidade”. “Primeiro, o rescaldo do impeachment, pois é um ato politicamente doloroso pra quem sai”, afirmou.
“Quando saíram milhares de pessoas às ruas, nós começamos a dizer: tem que respeitar”, completou, analisando o recrudescimento do movimento.
Nos últimos atos, ministros como Eliseu Padilha (Casa Civil) e José Serra (Relações Exteriores) minimizaram os protestos -mas depois voltaram atrás, reconhecendo o erro.
Na entrevista, Temer criticou, no entanto, a proposta defendida nas manifestações, de convocação de eleições diretas para presidente, chamando a ideia de “uma via transversal, que não é constitucional”. “O jeito é irmos tranquilamente até 2018”, disse.
Temer, que reforçou a promessa de não ser candidato à reeleição em 2018, ainda afirmou que quer “debater o [argumento de que houve] golpe”. “Acho que o golpe não pegou. Pegou como movimento político. Como movimento político é bem pensado até. Eu quero que explique o golpe (…) Me digam, qual é o golpe? Eu só quero governar.”
Sobre o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Temer reconhece que “falava muito” com o deputado afastado, mas que nos últimos dias o correligionário não o procurou.
Segundo o presidente, uma eventual delação premiada de Cunha, que deve ter o processo de cassação votado nesta semana na Câmara e é investigado por envolvimento nas investigações da Operação Lava Jato, “não gerará nenhum constrangimento ao governo”. “Mas é um simples achismo”, completou.
Ainda sobre os desdobramentos da Lava Jato, Temer afirmou ao “O Globo” que “jamais” interferirá nas investigações. “Cada Poder exerce o seu papel e seria um absurdo do Poder Executivo [tentar influir na operação].”
No sábado (10), o ex-advogado-geral da União Fabio Medina Osório, demitido do cargo um dia antes, afirmou, em entrevista à revista “Veja”, que o governo de Michel Temer “quer abafar a Lava Jato” e tem “muito receio” de até onde a investigação sobre o esquema de corrupção na Petrobras possa chegar.
MESÓCLISE
Além dos temas políticos, na entrevista ao jornal carioca Temer minimizou as vaias de que foi alvo nas cerimônias de abertura da Olimpíada e da Paraolimpíada, no Rio, dizendo ter se preparado para elas.
Também afirmou que “vai esperar um pouco” para se mudar para o Palácio da Alvorada, por estar “bem” no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente (que “tem mais jeito de casa”, segundo ele). E prometeu, entre risadas, se policiar para evitar o uso de mesóclises. “Tentá-lo-ei não fazê-lo.”
Temer também afirmou que dispensou a faixa presidencial no desfile militar de Sete de Setembro para evitar passar a impressão de “soberba” e que está refletindo sobre a obrigatoriedade de ter seu retrato em repartições públicas -“é um culto à personalidade”, disse.