ARTUR RODRIGUES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O candidato a prefeito Celso Russomanno (PRB) usa dados descontextualizados de mortes no trânsito para atacar a gestão Fernando Haddad (PT).
“Os números da Secretária [de Estado] da Segurança mostram que não houve diminuição nas mortes por acidentes”, disse, durante agenda de campanha em Santo Amaro (zona sul de SP). Ele diz que pretende aumentar novamente os limites nas marginais Tietê e Pinheiros, além de investir mais em educação de trânsito.
Ele acusou a gestão Haddad falsificar os dados. “Os números do secretário [municipal] de Transportes [Jilmar Tatto, do PT] são números dele, não dos engenheiros técnicos da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), não são reais. Ele rasgou os relatórios e colocou números que ele queria colocar”, afirmou.
Russomanno se baseia em dados do Infosiga, um sistema do governo estadual que contabiliza as mortes no trânsito com base em boletins de ocorrência. A CET utiliza também os boletins, mas cruza com dados do IML (Instituto Médico Legal), excluindo, por exemplo, casos de pessoas que se acidentaram em outras cidades, mas morreram em hospitais em São Paulo.
O candidato apresenta dados de 2015 para provar a tese de que as mortes não caíram após a redução de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros, que começou julho daquele ano.
Ele compara meses do mesmo ano. Por exemplo, a variação de julho para agosto daquele ano foi de 86 para 90 mortes, segundo os dados estaduais usados por Russomanno.
Especialistas orientam que mortes sejam sempre comparadas com o mesmo período de anos anteriores, devido a questão de sazonalidade -a quantidade de carros na rua em cada mês é influenciada por diversos fatores, como as férias escolares em julho, quando diminui o tráfego.
Comparando o mesmo período do ano, a base de dados estadual usada por Russomanno também mostra queda de mortes antes e depois da redução da velocidade nas marginais.
De janeiro a julho de 2015, antes da redução do limite nas marginais, foram 685 mortes. No mesmo período de 2016, foram 547 casos. A redução é de 20%.
A CET só dispõe de dados até abril de 2016. Comparando de janeiro a abril de 2015 e 2016, a queda foi de 29%.
O diretor da CET, Tadeu Leite, afirma que o critério usado pela companhia é mais refinado que a contabilização apenas dos boletins de ocorrência. “É o mesmo método utilizado há 40 anos pela companhia”, afirma ele, que trabalha no órgão desde 1977.
Várias entidades da sociedade civil, como o Movimento Não Foi Acidente, pedem que Russomanno, Marta Suplicy (PMDB) e João Doria (PSDB) desistam de aumentar o limite de velocidade se forem eleitos. Eles afirmam que a eficácia na questão da velocidade é “inquestionável”.
Entre os principais candidatos, apenas Haddad e Luiza Erundina (PSOL) pretendem manter os limites de velocidade nos patamares atuais.