Em seu primeiro pronunciamento público após a Operação Métis, realizada no Senado na semana passada, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez duras críticas ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e disse que a Polícia Federal utiliza “métodos fascistas” por ordem de um “juizeco de primeira instância”.
Bastante irritado, ele atacou também o que considerou “excessos” da Lava Jato. “É inacreditável que uma pinimba de agentes defina uma crise institucional”, afirmou Renan, em alusão à delação de um policial legislativo que deu origem a ação que culminou com a prisão de quatro agentes do Senado.
Acompanhado dos senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), além do deputado Paulinho da Força (SD-SP), Renan disse, nesta segunda-feira (24), que o Senado ingressará com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) para “fixar as competências dos poderes”.
No texto, o presidente do Senado citará o episódio envolvendo a busca e apreensão realizada no apartamento da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), a condução coercitiva do ex-presidente Lula e os áudios vazados de conversa entre Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff.
Renan criticou o “espetáculo inusitado com participação do ministro do governo federal que não tem se portado como ministro de Estado, mas como chefete de polícia”.
Ele disse que esteve neste domingo (23) com o presidente Michel Temer. O presidente do Senado negou ter pedido a cabeça de Moraes que, para ele, “falou mais do que devia, dando bom dia a cavalo”.
Para Renan, a Operação Métis, da última sexta-feira (21), teve objetivo de “constranger e intimidar”.
“Tenho ódio e nojo de comportamentos fascistas. Como presidente do Senado, cabe a mim repelir”, afirmou. “A Lava Jato é sagrada, significa sempre avanços. Mas não quer dizer que não podemos criticar seus excessos”, disse ele.
“A submissão ao modelo democrático não implica em comportamento passivo”, afirmou o presidente do Senado. “Estamos nos avizinhando do Estado de exceção. Não podemos chegar a isso”, disse Renan, alegando que houve “dezenas” de pedidos de varredura, inclusive de senadores que não são alvo da Lava Jato. “A varredura não tem nada a ver com a Lava Jato.”
Em mais de meia hora de entrevista, Renan Calheiros listou 17 varreduras solicitadas por senadores, ex-senadores, servidores, além do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
“Fazer varredura para detectar grampos ilegais é uma rotina. Esta atividade, além de regulamentada no Senado Federal, é uma atuação rotineira”, disse Renan, completando que até a Polícia Federal já requisitou os equipamentos do Senado, em 2005.
Indagado diversas vezes, Renan disse que “nunca” solicitou varredura em sua própria residência. Seu nome aparece apenas como solicitante de inspeção no gabinete do ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Bruno Dantas, afilhado político do presidente do Senado.
DANIEL CARVALHO E MARINA DIAS
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)