Odebrecht diz ter pago R$ 13 mi a conselheiro

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O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Junior, conhecido como BJ, disse, em sua delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato, que às vésperas da eleição de 2010 a empresa negociou pagamento de R$ 13,5 milhões para um conselheiro do Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS) para ele facilitar um negócio bilionário com a companhia baiana.
O dinheiro pago seria contrapartida de 1% à aprovação de um aporte de R$ 1,3 bilhão do FI-FGTS para adquirir 30% da da Odebrecht Transport Participações, empresa recém-criada pelo grupo.
O FI-FGTS foi criado em 2007 para investir dinheiro do fundo do trabalhador nas obras de infraestrutura do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Segundo a delação, a negociação foi feita entre o então presidente da Odebrecht Transport, Geraldo Villin, e André Luiz de Souza, indicado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) para fazer parte do grupo de apoio permanente que assessora o conselho e o comitê de investimento do FI-FGTS.
A Caixa Econômica Federal era responsável pela gestão do FI-FGTS.
Após o pagamento de R$ 13,5 milhões, o negócio com o FI-FGTS saiu.
Conforme a Folha de S.Paulo revelou, Souza aparece também na delação de Fernando Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental.
Reis disse que, em 2009, Souza recebeu R$ 8 milhões, depositados na Suíça, a título de “consultoria” para ajudar que o FI-FGTS comprasse 25% da Odebrecht Ambiental por R$ 650 milhões.
EDUARDO CUNHA
Três anos depois do acerto entre a Odebrecht Transport e o fundo de investimento do FGTS houve outra negociação para um novo aporte na empresa.
Nas delações de BJ e de Paulo Cesena, que substituiu Villin na presidência da Odebrecht Transport, aparece a história de uma combinação para que o FI-FGTS investisse o valor de R$ 429 milhões no braço de transportes do grupo baiano.
O fundo pretendia capitalizar a Odebrecht Transport em resposta a uma investida do BNDES, que também havia colocado dinheiro na empresa.
Dessa vez quem prometeu facilitar as coisas para a liberação de dinheiro do FI-FGTS foi o ex-deputado federal Eduardo Cunha.
Segundo os executivos da Odebrecht, Cunha cobrou propina de 1% do valor da operação.
O ex-deputado justificou o valor do suborno de R$ 4 milhões dizendo que teria que repassar dinheiro a Fábio Cleto, na ocasião vice-presidente de Loterias da Caixa, e para 3 conselheiros do FI-FGTS.
Nomeou como recebedores do repasse os conselheiros João Graça, ligado ao PDT, Luiz Fernando Emediato, ligado à Força Sindical, e uma pessoa ligada ao PT, não identificada por Cunha.
Após o pagamento do suborno o aporte de R$ 429 milhões foi liberado.
FAVOR
Cleto é delator em processo que investiga desvios na Caixa Econômica Federal. Ele menciona o episódio na sua delação.
Diz que foi procurado por Cunha, em 2013, para que se posicionasse favoravelmente ao aporte de R$ 420 milhões na Odebrecht Transport.
Cunha disse na ocasião que aquele caso específico era um favor e não envolvia pagamento de propina.
Cleto afirma na delação ter desconfiado que Cunha estava mentindo para ficar com o dinheiro todo para ele.
Mesmo sem receber dinheiro por isso, Cleto apoiou o aporte.
João Graça e Fernando Emediato disseram que não participaram de nenhum acordo e não receberam qualquer quantia.
Acusam Cunha de ter mentido para receber em nome dos conselheiros.
OUTRO LADO
O advogado Angelo Bellizia, defensor de André Luiz de Souza, disse que não iria comentar as acusações por não ter tido acesso às delações.”Como não tivemos acesso aos acordos, a manifestação se dará somente nos autos” disse Bellizia.
A defesa do ex-deputado Eduardo Cunha não quis se manifestar sobre o caso.
O advogado de Fábio Cleto, Adriano Vanni, disse que “todo o conteúdo da delação de Cleto tem sido confirmado, pois a delação é efetiva e espontânea”.
João Graça, ex-conselheiro do FI-FGTS, disse que não participou de nenhum acordo e não recebeu qualquer quantia. “É fácil falar que recebeu em nome de terceiros. Eu nem sabia disso”, disse Graça. “Eu coloco minhas contas à disposição para que investiguem. Não tenho nada a esconder”.
Luiz Fernando Emediato também negou ter recebido qualquer repasse do esquema e disse que nunca votou processos da Odebrecht. “Eu saí do conselho do FI-FGTS em março do ano de 2013, antes de a proposta ser aprovada pelo fundo”, disse.
A Odebrecht, em nota, disse que “não se manifesta sobre o teor de eventuais depoimentos de pessoas físicas, mas reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça”. A empresa também declarou que “está implantando as melhores práticas de compliance (medidas anticorrupção), baseadas na ética, transparência e integridade”.

WÁLTER NUNES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)