Um dia depois de a Justiça cancelar a decisão em que assumia funções do Legislativo, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, chamou neste domingo (2) de “hienas famintas” os manifestantes da oposição que 24 horas antes haviam ido às ruas de Caracas contra o governo.
O chavista fez as críticas em seu programa de TV, “Em contato com Maduro”, no início da tarde, mesma hora em que deputados opositores pediam apoio a frequentadores de shoppings da capital.
Em discurso que durou mais de uma hora no canal estatal VTV, o mandatário disse que a intenção dos manifestantes era “procurar a violência, queimar e destruir” para mostrar à imprensa estrangeira.
“Depois, quando vem a Justiça, dizem: ‘Somos presos políticos. Não podem nos levar por nossos ideais. Que ideal têm vocês? Queimar? Destruir? Intervir? Isso, de acordo com as leis, são crimes, delitos, traição à pátria.”
No programa, ele voltou a se referir a sua teoria de que seus adversários se articularam com o Departamento de Estado dos EUA e governos de países vizinhos para derrubá-lo.
Também criticou os membros do Mercosul, que suspenderam Caracas no sábado (1º) por descumprir a cláusula democrática, por não fazer menção aos protestos no Paraguai.
“Não deram um pio [sobre o Paraguai] os chanceleres da Tríplice Aliança”, disse, usando o termo com o qual se refere aos governos de Mauricio Macri (Argentina), Michel Temer (Brasil) e Horacio Cartes (Paraguai).
Para ele, a revolta paraguaia contra a reeleição presidencial e os protestos contra as reformas trabalhistas e da previdência no Brasil são um reflexo da impopularidade e da falência dos governos de direita.
“Temer tem a reprovação de 90% dos brasileiros, e Macri, de 80% dos argentinos [números oficiais são de 50%]. Está se levantando uma nova onda popular na América Latina.”
Ele considerou superada a crise das sentenças do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) que tiravam da Assembleia Nacional o poder de legislar e acabavam com a imunidade parlamentar.
As duas decisões, anunciadas na quinta (30), foram derrogadas em reunião do Conselho de Defesa venezuelano na sexta. “Solucionamos o problema de forma institucional, seguindo o principio de autodeterminação dos povos, sem uma intervenção externa.”
JUSTIÇA NO ALVO
Para a oposição, porém, a situação não está resolvida. O vice-presidente da Assembleia Nacional, Freddy Guevara, anunciou que a Assembleia Nacional colocará na pauta a remoção dos magistrados do TSJ que votaram a favor das decisões.
“Eles deram um golpe de Estado e não podem ficar impunes. Não vamos nos render, isso só está começando e precisamos do apoio de todos”, disse Guevara.
A expulsão dos juízes será apresentada ao plenário na terça (4), mesmo dia para o qual a oposição prepara uma nova manifestação contra Maduro e a Suprema Corte.
Neste domingo (2), um grupo de deputados pedia apoio à população na entrada dos cinemas e das praças de alimentação dos shoppings nas áreas nobres de Caracas.
A intenção é ir do leste da capital, tradicional bastião opositor, à sede do Legislativo, no Centro, o que não aconteceu no sábado (1º), por terem sido impedidos de forma violenta pela polícia.
Na Colômbia, o presidente da Assembleia, Julio Borges, tentava reforçar o apoio internacional à oposição, em reunião com parlamentares de países latino-americanos. Em visita a Brasília em fevereiro, ele havia conquistado o respaldo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE)
Apesar da crise, continuou neste fim de semana o processo de validação dos partidos políticos, que reuniu poucas pessoas na sede do Conselho Nacional Eleitoral.
DIEGO ZERBATO, ENVIADO ESPECIAL
CARACAS, VENEZUELA (FOLHAPRESS)