‘Fora, Temer’ embala caravana de apoio a Lula de SP para Curitiba

CURITIBA, PR - 10.05.2017: LULA-PROTESTOS - Manifestantes pro-Lula ocupam a praça Santos Andrade, em frente a Universidade Federal do Paraná, após caminhada pelas ruas do centro de Curitiba, na manhã desta quarta-feira. (Foto: Marco Aurélio Canônico/Folhapress)
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“Você sabe o que é caviar?/ Nunca vi nem comi, só ouço falar…”
A cantoria de Zeca Pagodinho monopoliza as três TVs de um dos 12 ônibus de turismo alugados para transportar cerca de 500 militantes da CMP (Central de Movimentos Populares) de São Paulo a Curitiba.
A caravana faz parte dos esforços da Frente Brasil Popular para levar 50 mil pessoas à cidade onde Lula terá seu primeiro cara a cara com o juiz Sergio Moro.
São 2h da madrugada de quarta (10), 12 horas antes do horário marcado para o depoimento. A turma do fundão está animada, revezando gritos de “vai, Corinthians!” com “fora, Temer”.
Para o presidente Michel Temer, reservam uma canção que diz assim: “Pisa ligeiro, pisa ligeiro/ Quem não pode com a formiga não atiça o formigueiro”.
Caviar de fato não tem, mas tem vários potes Tupperware com torta de frango, bolo de cenoura, maionese e macarrão frio com milho, presunto e frango, do jeito que as formigas gostam.
A fome bate depois de rodadas da vodca Kriskof sabor uva, que circula pelo pessoal num copo de plástico com fundo que pisca (como luzinha de Natal).
Os passageiros atendem por apelidos como Shakira, Cheiroso, Carioca. Usam coletes vermelhos de movimentos sociais, distribuídos pela organização. Muitos viajaram deixando dois, três, quatro filhos a cuidado do cônjuge ou dos avós (a volta estava programada para o mesmo dia).
Culpam Temer por cortes nos programas Leve Leite (responsabilidade da gestão João Doria) e pelas reformas trabalhista e previdenciária, que, se aprovadas, porão “tudo a perder”. Dizem que estão indo ao Paraná “lutar por moradia”.
Porque, embora alguns acreditem que o PT não é inocente na Lava Jato, ainda veem o partido como o mais capacitado a batalhar pelas classes menos favorecidas.
Com ele, “pobre pode ter um celular bom, uma geladeira decente”, diz Fabiana Sena, 42, que usa seu celular bom para tirar fotos da paisagem.
A impressão geral: a vida era mais fácil no governo Lula (2003-2010).
Pré-PT: Maria Aparecida, 29, lembra que na infância em Alagoas, na falta do que comer, a refeição era a base de carne de gato com chuchu (“especialidade” do pai).
Já sua irmã Priscila Brito, 32, baiana “de mãe diferente”, lamenta a vida pós-PT.
“Quando Lula era presidente, ó, podia até fazer coisas erradas, mas ajudou muito os pobres”, afirma Priscila, uma das mulheres mais vaidosas do ônibus, que caprichou na sombra azul para a viagem.
“Vamos pôr assim: nenhum [político] é inocente, todo mundo aprontou. Mas Lula deu mais benefícios -e Temer está tirando. Não passei fome no Lula. Passo fome hoje”, diz a profissional autônoma, que vende lingerie e CDs no Brás (região central de São Paulo) e complementa a renda com R$ 124 de Bolsa Família.
As irmãs Maria e Priscila, como a maioria no ônibus, moram na Terra Prometida, nome da ocupação com 300 famílias na zona leste paulistana.