Sem culpados’, tragédia da TAM ainda frustra famílias dez anos depois em SP

Desastre Aéreo do Airbus-A320 da TAM: bombeiros tentam apagar incêndio causado por Airbus da TAM que explodiu após se chocar contra prédio da companhia e posto de combustível, ao lado do aeroporto internacional de Congonhas, em São Paulo (SP). O avião da TAM proveniente de Porto Alegre (RS) caiu em 17 de julho de 2007 ao lado do aeroporto de Congonhas quando tentava pousar, às 18h50, sob chuva em São Paulo. Ao tentar pousar, o Airbus-A320, vôo JJ 3054 da TAM, passou em um vôo rasante sobre os veículos que estavam na avenida Washington Luís, uma das mais movimentadas do país, e acabou se chocando contra o prédio da TAM Express e um posto de gasolina, explodindo em chamas. (São Paulo, SP, 17.07.2007. Foto de Rogério Cassimiro/Folhapress)
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Há cerca de um mês, Dario Scott se arrumava para um compromisso inadiável. Chegou ao tribunal e aguardou pela sentença: absolvidos. Ao ouvir a decisão, disse a frase que repete desde que a filha se tornou uma das vítimas do voo JJ3054 da TAM que atravessou a pista de Congonhas e chocou-se com um prédio da companhia: “O culpado fui eu, que permiti que minha filha entrasse naquele avião”.

Para a decepção de Dario, a Justiça não ficou convencida de que uma ex-diretora da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), além de um ex-diretor e o ex-vice presidente da TAM fossem responsáveis diretos pela tragédia que matou 199 pessoas na noite chuvosa de 17 de julho de 2007.

Na disputa judicial, a acusação já sofreu duas derrotas que praticamente exauriram as chances de condenação. “Foram uma frustração. Tínhamos a expectativa da condenação”, lamenta Dario, que perdeu a filha Thaís Scott, de 14 anos que viajava para passar as férias com os avós.

O jornalista Roberto Gomes, 61, que perdeu o irmão Mário, que tinha 49, diz que a decisão “abalou o senso de justiça das famílias”. “Gostaríamos que o Ministério Público recorresse até as últimas instâncias. Hoje, não sabemos que futuro o caso terá.”

A acusação contra a ex-diretora da Anac Denise de Abreu era a de que ela havia induzido equivocadamente a Justiça a liberar a pista para operações sem restrições.

Acontece que meses antes do acidente a pista de Congonhas havia passado por reformas para aumentar sua aderência. Com obras incompletas, a pista foi liberada quando Denise encaminhou à Justiça relatórios que avalizavam a segurança. Entre os documentos, apresentou uma regra que restringiria o pouso de aeronaves que estivessem sem um dos reversores (um dos sistemas de freio dos aviões acionado pela turbina). A regra nunca foi posta em prática. Segundo a acusação, se o documento de Denise fosse válido, o pouso não seria autorizado em Congonhas, já que o avião estava com um dos reversores quebrados.

Marco Aurélio Miranda (ex-diretor de segurança da TAM) e Alberto Fajerman (ex-vice presidente da TAM), eram acusados de não terem desviado o voo, sabendo do defeito e que a pista estava molhada.

 

Após analisar hipóteses, Justiça livra réus da tragédia  na capital

 

Na primeira e na segunda instância da Justiça Federal prevaleceram as interpretações dos relatórios da Polícia Federal e do Cenipa (órgão da Aeronáutica que investiga acidentes) que apontaram falhas no uso das turbinas do avião, não na situação da pista. O laudo do Cenipa mostrava que um dos manetes (controles das turbinas) do avião estava em posição de aceleração, quando deveria estar em ponto morto ao tocar a pista.

Por uma das hipóteses, ao tocar o solo o piloto teria feito o procedimento padrão, mas um erro no controle de potência fez com que a turbina esquerda forçasse a parada enquanto a direita acelerava.

Na segunda hipótese, o piloto teria errado. Por uma análise do Cenipa, os pilotos poderiam estar sob pressão ao saber das condições adversas da pista e do avião. Instantes antes do pouso o comandante teria alterado o procedimento padrão para ter maior segurança e se confundiu deixando uma das manetes em posição de aceleração.

Diante das hipóteses, a Justiça entendeu que os réus não poderiam evitar o acidente. Dez anos após a tragédia, Dario Scott lamenta a perspectiva de falta de condenações. “As famílias vivenciam o luto novamente a cada nova etapa. Ainda assim, queríamos que alguém tivesse sido condenado para que isso não voltasse a ocorrer de novo no Brasil”.

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