Na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, um lagarto sai de baixo da sombra de uma árvore, percorre um quarteirão da rua Camaragibe e vira a primeira travessa à esquerda, fugindo das vistas de quem observa a cena.
O trajeto dura quatro segundos, mas quando começa o sol brilha forte e, ao final, já é tarde da noite. Depois de mais de 11 horas de trabalho e de gastar mais de cem litros de tinta, o artista argentino Tec, 41, faz a última das 32 pinturas que compõem a primeira parte de seu novo projeto: uma intervenção em stop motion no asfalto de São Paulo, fotografada por um drone.
Não é a primeira intervenção de Tec no solo paulistano. A íngreme ladeira da rua Caiubi, em Perdizes (zona oeste), já abrigou um rato; pipas já enfeitaram as quebradas do bairro de Americanópolis, próximo à Diadema; quem passa pela rua dos Caciques, na Saúde (zona sul), se depara com um esqueleto de peixe.
Ao contrário de outros grafiteiros, cuja relação com a administração João Doria (PSDB) começou conturbada, e dos pichadores, que o prefeito elegeu como inimigos, Tec diz não se sentir incomodado pelas autoridades. Fora a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que se ocupa da sinalização horizontal, não há quem reivindique a tela do trabalho. “O chão é um lugar desprestigiado por natureza, nele você pisa, cospe”, afirma o artista.
Para evitar transtornos com a fiscalização ou com a vizinhança, o artista toma precauções: não pinta ruas com sinalização de trânsito, trabalha só aos finais de semana e começa o expediente preferencialmente de madrugada. Tec, que já pintou o asfalto de cidades como Buenos Aires, Nova Iorque e Montevidéu, afirma que São Paulo é onde encontrou mais liberdade para desenvolver seu trabalho.