Paleontólogos encontram berçário de pterossauros na China

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Os estudos sobre a evolução dos pterossauros, que eram bastante limitados devido à escassez de material, acabam de sofrer uma revolução: cientistas encontraram nada menos que 215 ovos fossilizados -e em com ótimas condições de preservação- desses répteis voadores.
Para se ter noção da importância do achado, até agora eram conhecidos apenas oito ovos de pterossauro com estrutura tridimensional e embrião.
Não surpreende, assim, que a descoberta das mais duas centenas de novos ovos tenha sido publicada com destaque na edição desta semana da revista especializada “Science”.
O trabalho foi comandado pelo paleontólogo chinês Xiaolin Wang, da Academia Chinesa de Ciências de Pequim, e contou com uma importante contribuição brasileira.
Um dos maiores especialistas mundiais em pterossauros, o paleontólogo Alexander Kellner, pesquisador do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), fez parte da equipe de escavações e também é um dos autores do trabalho.

A DESCOBERTA
Os ovos foram encontrados na China, um país que já tem tradição na obtenção de fósseis muito bem preservados, inclusive de pterossauros, cuja estrutura óssea é mais delicada do que de muitos outros répteis contemporâneos.
Segundo os pesquisadores, todas as amostras pertencem à espécie Hamipterus tianshanensis, do Cretáceo Inferior.
No material encontrado há ovos cujos embriões estão em diferentes estágios de desenvolvimento.
Através de exames de tomografia computadorizada e outras análises, os pesquisadores conseguiram inclusive identificar detalhes sutis como o estágio de desenvolvimento e o grau de desenvolvimento da estrutura do esqueleto.
Dos ovos descobertos, 16 têm embriões extremamente bem preservados. O mais notável deles armazena parte de uma asa e até ossos do crânio, incluindo a parte de baixo completa do maxilar.
Também na “Science”, o pesquisador D. Charles Deeming, da Universidade de Lincoln, no Reino Unido, destaca a importância da descoberta.
“Este trabalho é crucial para a compreensão da reprodução dos pterossauros”, diz o cientista, que não participou da pesquisa.

NOVIDADES
Embora seja preciso cautela quanto aos resultados -desvendar milhões de anos de história a partir de fragmentos fossilizados não é tarefa fácil-, os cientistas já têm boas pisas sobre a reprodução e a biologia dos pteros.
A grande quantidade de ovos encontrados, e o fato de terem sido postos por diferentes indivíduos, indica que esses animais muito provavelmente faziam ninhos em áreas coletivas.
Os pesquisadores também acreditam que os pterossauros tinham certa fidelidade ao local onde colocavam os ovos.
Um outro ponto abordado na pesquisa é o grau de autonomia dos bichos logo depois de saírem da casca. Os cientistas dizem que alguns dos embriões, mesmo próximos de eclodirem, ainda não tinham dentes, o que sugere que eles não conseguiriam se alimentar por conta própria. Exigindo, portanto, auxílio dos adultos.

(Folhapress)
Foto: Alexander Kellner/Museu Nacional