TikTok e Stories do Instagram trouxeram visão de bastidores para a Olimpíada

Nas madrugadas das últimas duas semanas, muitos brasileiros fizeram um revezamento de telas para acompanhar o que estava acontecendo em Tóquio: os jogos começavam com as fofocas nos Stories, do Instagram, aconteciam na TV e terminavam no TikTok com algum conteúdo viralizado. Por meio dessas plataformas, foi possível acompanhar detalhes dos preparativos, da comemoração e de quase qualquer coisa que os atletas quisessem mostrar nas redes sociais, desde a cama de papelão da Vila Olímpica até o funcionamento da privada tecnológica do Japão. Tudo isso pela lente dos protagonistas do evento.

É algo novo da Olimpíada: nos últimos quatro anos, ferramentas de vídeos curtos ou em tempo real passaram a dominar as plataformas tecnológicas. Publicações em texto e imagens supereditadas, que apareciam nos jogos anteriores, deram espaço a conteúdos espontâneos com bastidores do dia a dia.

Os Stories, em que os conteúdos desaparecem depois de 24 horas, foram lançados em 2016 – eram um recurso incipiente nos Jogos do Rio de Janeiro. O aplicativo chinês TikTok, conhecido pelos vídeos acelerados, chegou ao Brasil em 2018 e bombou de fato em 2020. E os atletas, é claro, acompanharam as mudanças.

Laura Pigossi, atual medalhista de bronze nas duplas do tênis feminino com Luísa Stefani, já era adepta dos Stories antes de Tóquio e aproveitou a passagem pelo Japão para compartilhar os detalhes da viagem nas redes sociais.

“Minha família queria saber como era, então eu comecei a gravar, e muitas pessoas me mandaram perguntas sobre coisas que elas queriam saber. Sempre gostei dos Stories e gosto de mostrar coisas que às vezes os jornalistas não conseguem reportar, porque são aspectos mais pessoais dos atletas”, afirma a tenista ao jornal O Estado de S. Paulo.

No Instagram, o número de seguidores de Laura saltou de 7 mil para 72 mil nesses Jogos Olímpicos. Com a visão privilegiada do evento que só um atleta tem, ela mostrou em seus Stories coisas da rotina, como o interior de restaurantes e a chegada até as quadras – os conteúdos ultrapassaram as 70 mil visualizações em pouco tempo.

O uso das redes sociais foi conciliado com muita preparação e treino para as competições, conta Laura. “Tinha hora para tudo, inclusive para gravar os vídeos, gerando conteúdo. Quando perdemos o jogo na semifinal, as pessoas mandaram muita força, falando que merecíamos a medalha de bronze. Foi um grande impulso.”

A atleta Ágatha Rippel, do vôlei de praia, também viveu um processo semelhante. Desde que publicou um vídeo mostrando como funcionava o vaso sanitário tecnológico do alojamento, ela viu seu número de seguidores subir e também percebeu cada vez mais brasileiros pedindo detalhes do que acontecia na Vila Olímpica.

Se do lado do atleta fez sentido a exposição, do lado do espectador a sede por esses conteúdos foi grande: para quem assistiu aos jogos, apenas saber o resultado da competição não foi suficiente. A mineira Isabelle Brandão Otoni, de 28 anos, acompanhou todos os movimentos dos seus atletas favoritos, principalmente das seleções de vôlei e do skate brasileiro.

“Eu me lembro que, em 2016, a gente ainda não sabia como era viver na Vila Olímpica, como é a interação de um atleta com outro, como os atletas também são fãs de outros. É legal saber que eles são pessoas normais, que vão fazer bagunça e vão ter seus ídolos lá dentro também”, afirma Isabelle.

Para o professor Ivan Martinho, especializado em marketing esportivo na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), essa conexão com os atletas teve uma dimensão ainda maior por conta da pandemia. “Foi um evento que teve restrição de público. Isso gerou uma demanda reprimida grande por proximidade”, afirma

Audiência

Mais de 60 atletas brasileiros possuem contas no TikTok, de acordo com dados da rede social obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo – alguns possuem centenas de milhares de seguidores. O app registrou um pico de procura por conteúdos sobre os jogos.

Em alguns casos, as postagens de atletas em redes sociais atingiram níveis de influenciadores digitais. Rayssa Leal, a “Fadinha” do Skate Street, foi uma das que mais tiveram engajamento no TikTok.

Um vídeo em que ela dança com a atleta filipina Margielyn Didal teve mais de 6 milhões de visualizações. O jogador Douglas Souza, por sua vez, viu seu número de seguidores crescer quase 900% no Instagram, atingindo o número de 3,2 milhões.

Para Alexandre Inagaki, consultor de redes sociais, a aproximação do atleta “influenciador digital” do público é uma tendência que veio para ficar. “Nas mídias sociais podemos seguir o dia a dia das nossas personalidades favoritas. É uma continuidade da competição e, pela proximidade, o atleta meio que se torna um amigo.”