História do basquete é ensinada em escola pública na cidade de Franca

Foto: Markus Spiske/Pexels
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“O basquetebol de Franca é algo muito sério”. Essa frase do ex-técnico de Franca Pedro Morilla Fuentes, o Pedroca, em entrevista para a EPTV/Globo reflete até hoje em Franca. Na Escola Estadual Professora Ana Maria Junqueira, 35 estudantes do 8º e 9º ano do Ensino Fundamental aprendem sobre a origem do basquete e a relação da modalidade com o município.

“A disciplina chama ‘Franca, a capital do basquete’. Nós percebemos que a maioria dos alunos não sabe da história, importância do basquete e como a cidade caminha junto com o esporte. O objetivo é ensinar fundamentos e regras gerais do basquete”, relatou o professor de Educação Física Peterson Salvi, de 36 anos, mas também a história do esporte na cidade e sua importância.

Peterson tem a companhia do professor de Geografia Mateus Menezes nas aulas semanais. Juntos, eles coordenam essa disciplina eletiva, que ocorre toda quarta-feira na parte da tarde com 30 minutos de duração. “É um projeto que tem uma importância principalmente na parte histórica. Tanto é que visa a parte do resgate histórico regional. Temos uma exposição de fotos, que mostram a ininterrupção do basquete francano e as camisetas raras também usadas pelos times. Tem essa contribuição da formação sociocultural e histórica por parte dos nossos alunos”, explicou Mateus.

Nas aulas, os professores organizaram exposições de camisas de times antigos da cidade, todos extintos, com fotos e troféus e contaram a história da evolução do basquete, que começou a ser praticado em Franca no fim dos anos de 1920. Portanto, há um século.

“Não sabia da história. O professor falou que muita gente também não sabia e vi como oportunidade de aprender mais sobre o meu esporte preferido. Quis entrar de cabeça e antes desconhecia quem foi o Pedroca, que criou o basquete aqui na cidade. Os meus amigos pegaram o jeito com as aulas práticas e querem de novo”, afirmou o aluno Victor Degrande, de 15 anos, do 9º ano da Escola Estadual Prof.ª Ana Maria Junqueira.

“A gente jogou, aprendeu as posições do basquete, assistimos aos jogos do Franca Basquete e ainda veio gente para apresentar sobre o esporte”, complementou a aluna Alessandra Cristina, de 14 anos, do 8º ano. De acordo com o professor Peterson, esses retornos dos alunos mostram o que fica de legado dessa experiência inédita no Brasil. “O retorno foi muito positivo, as aulas têm interesse os alunos. Os meninos gostaram muito. Trouxe o resgate dessa história bonita do basquete. Os alunos conheceram muita coisa”, garantiu o educador.

A importância do projeto desenvolvido pelos professores Peterson e Mateus saiu dos muros da própria escola e foi elogiado pelo técnico do Sesi/Franca Basquete, Helinho Garcia. “Fico muito feliz de ver o empenho das pessoas de manter essa tradição, que foi construída por muitas pessoas. Poder manter essa tradição através das crianças me deixa muito orgulhoso e motivado para continuar dentro da quadra”, comentou o treinador. A equipe francana é o atual campeão do NBB.

Dificuldade na preservação da história

Apesar do projeto desenvolvido na escola Ana Maria Junqueira, Franca sofre dificuldades para manter a preservação da história do basquete na cidade. A reportagem do Estadão esteve na Secretaria Estadual de Educação para saber se a disciplina poderia ser aplicada em outros colégios da cidade. Em nota, a pasta limitou-se a informar que “as escolas estaduais têm um programa educacional que se chama Projeto de Vida, na qual escolhe o tema” a ser desenvolvido nas disciplinas eletivas. Na Ana Maria Junqueira, foi o basquete da cidade.

O Estadão questionou ainda à Secretaria Municipal de Educação de Franca para saber se um projeto parecido poderia ser desenvolvido nas escolas municipais. Em nota, a pasta não informou. Disse apenas que “iniciou uma parceria com o Instituto Chuí de Esportes para a realização do 1° Concurso Cultural com o tema: “Basquete em Franca: sua história e a seleção brasileira na capital do basquete”, atendendo aos alunos da Educação Infantil Fases I e II e creches da Rede Municipal de Ensino e creches parceiras”.

Segundo a Secretaria, o projeto consiste em “resgatar a história do basquete. Os 12 desenhos mais votados serão publicados no calendário anual do Instituto Chuí de Esportes”. A pasta informou também que o projeto está previsto para ter segunda edição em 2023.

Franca conta com time profissional de basquete desde 1959. Ao longo dos últimos 63 anos, a cidade sempre esteve presente nas grandes competições nacionais e internacionais, algo único na história do Brasil. No entanto, encontrar esse passado é difícil

O Sesi/Franca Basquete não conta com troféus antigos da equipe, apenas os que foram conquistados a partir de 1995. As outras taças estão espalhadas nas empresas que patrocinaram o clube no início de sua história e na sede da Francana, time de futebol da cidade.

A Prefeitura de Franca promete há anos a construção de um Museu do Basquete na cidade, mas essa promessa nunca saiu do papel. Além disso, em frente ao Ginásio Pedrocão, onde o time local manda os jogos da NBB, a reportagem encontrou placas que contam a história e os personagens da história do basquete brasileiro deterioradas e sem conservação.

Questionado sobre a preservação da memória do esporte na cidade mais importante do basquete nacional, representantes da Prefeitura de Franca não responderam até o fechamento desta reportagem. O Sesi/Franca informou que não tem uma posição sobre o museu, mas que, por iniciativa do clube, vai fazer um memorial do basquete ainda esse ano na atual sede administrativa, que está em uma região central da cidade. Os troféus serão expostos e vai ser aberto para visitação do público.