A escuridão que permeia a infância

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Há histórias tão sombrias e perturbadoras que nos fazem questionar a própria natureza humana. Temos como exemplos os casos Henry Borel e Sophia Jesus Ocampo, tragédias que expõe a face mais cruel e hedionda do ser humano. A criminologia é a ciência que busca entender a natureza do crime, analisando suas causas, consequências e formas de prevenção; a vitimologia desempenha um papel fundamental, focando nas vítimas e nas repercussões que o crime causa em suas vidas, estudando suas características, suas interações com os perpetradores, os efeitos psicológicos e sociais do crime e as políticas de apoio e assistência. Quando nos deparamos com estupradores e torturadores de crianças, somos lançados em um abismo de desespero e incredulidade.
Estudos vitimológicos têm demonstrado que as crianças que sofrem abusos e maus-tratos enfrentam consequências físicas, emocionais e psicológicas duradouras. Essas experiências traumáticas podem levar a problemas de saúde mental, dificuldades nos relacionamentos interpessoais, baixa autoestima e até mesmo comportamentos autodestrutivos.
Nos casos como Henry Borel e Sophia Jesus Ocampo, a vitimologia assume um papel crucial na busca por justiça. Analisando as evidências e o contexto em que o crime ocorreu, os especialistas podem fornecer informações valiosas para a investigação, auxiliando na identificação dos responsáveis e na compreensão das implicações para a vítima e sua família.
Através de entrevistas, análise de registros médicos e psicológicos, e a consideração das características específicas da criança, a vitimologia ajuda a construir um perfil detalhado da vítima, contribuindo para a se descobrir a dinâmica do crime e os reflexos nefastos causados nas vítimas.
Desde o momento da notitia criminis até o desenrolar do julgamento, é fundamental garantir que as vítimas sejam ouvidas, respeitadas e acolhidas. Além disso, a vitimologia busca estabelecer políticas e programas de apoio às vítimas, proporcionando-lhes o suporte psicológico, social e jurídico necessário para superar o trauma e reconstruir suas vidas. No entanto, apesar do conhecimento científico fornecido pela vitimologia, muitas vezes nos deparamos com a frustração da justiça no enfrentamento desses casos.
No caso de Sophia, a Sejusp apontou que o abuso sexual ocorreu há vários dias ou até mesmo, meses, antes da morte, tendo aparentemente ocorrido falha do conselho tutelar, polícia judiciária e agentes públicos de saúde, que poderiam ter evitado o fim trágico, caso tivessem agido oportunamente. Já o caso Henry Borel é um exemplo alarmante de como a demora e a ineficiência do sistema judiciário podem permitir que os criminosos escapem da punição; a prova disso, é que Monique Medeiros, mãe da vítima e acusada de ter sido a garantidora do homicídio triplamente qualificado, está gozando dos prazeres da vida em liberdade, se achando no direito de usar suas redes sociais para criar factoides atacando o genitor da criança que clama por justiça. Isso não apenas perpetua a sensação de impunidade, mas também desencoraja outras vítimas e suas famílias a buscar justiça e reparação.
A ineficiência dos aparatos da justiça no caso Henry Borel desperta indignação e questionamentos sobre a eficácia do sistema, especialmente quando nos defrontamos com celulares dos acusados apreendidos, que podem desmontar suas narrativas, mas que não estão sendo utilizados como prova, pelo fato do órgão técnico alegar que não possuem tecnologia apta para acessarem os dispositivos sem que os réus forneçam as respectivas senhas. A indignação se torna ainda maior, quando o juízo natural indefere o encaminhamento dos equipamentos para órgãos especializados da polícia federal na tentativa de acesso. Diante dessas circunstâncias, é crucial que a ciência da vitimologia seja valorizada e aplicada de maneira efetiva.
O conhecimento acumulado nessa área deve influenciar a legislação, as políticas públicas e os procedimentos judiciais, para garantir uma resposta mais ágil e eficiente diante de crimes que envolvam vítimas infantis. É necessário investir em capacitação de profissionais, em tecnologia, promover a interdisciplinaridade e a troca de informações entre a criminologia, a psicologia, a assistência social e outras áreas relacionadas, para se dar uma resposta efetiva à família e para a sociedade.
Os casos Henry Borel e Sophia são feridas abertas na sociedade, alertas dolorosos de que ainda temos um longo caminho a percorrer na proteção das crianças e na efetivação da justiça.