O clima pesou nesta terça (19) na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). Três deputados discursaram contra a existência de um “duplo poder” na Casa, reflexo da tensão diante da transição de poder do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Até abril, Alckmin deve deixar o Bandeirantes para disputar a Presidência. É quando seu vice, Márcio França (PSB), assumirá e criará um cenário político inédito em São Paulo: pela primeira vez, um governador não tucano estará no poder e disputará a reeleição.
Um dos deputados mais influentes no Legislativo, o alckmista Campos Machado (PTB) disse não reconhecer o “segundo governo”. Ele reclamava de uma decisão do colega Caio França (PSB), filho do vice-governador e líder de seu partido, que havia sinalizado retirar o apoio à PEC 5, projeto de autoria do petebista que prevê o aumento do teto salarial de servidores paulistas.
“Alguns deputados se acham proprietários da Casa, inquilinos do Palácio dos Bandeirantes”, disse Machado. “O governo quer mandar sem ter assumido.”
COLIGAÇÃO
O vice-governador construiu uma base com cerca de 30 deputados do PSB, PPS, PV, PRB, PR, Podemos, DEM, PSL e Solidariedade, que podem vir a formar a coligação de sua candidatura.
O grupo, apelidado de “bloco”, se reúne com o vice de Alckmin semanalmente. Eles são numericamente superiores ao PSDB, principal bancada da Alesp, mas ainda precisam ampliar a influência na Casa. Na semana passada, França jantou com os parlamentares paulista -Campos Machado foi um dos convidados.
O petebista foi seguido na tribuna pela petista Márcia Lia. Ela reclamou da decisão de Caio França de se opor a pautar a discussão do PL 33, projeto de lei que regula o período de quarentena de professores, que havia sido, segundo a liderança do PT, acordada no Colégio de Líderes.
“Já tem outro governador querendo governar nesta Casa, que é o que assumirá em abril. Todas as negociações foram interrompidas não mais pelo governador Geraldo Alckmin, mas por interesse do futuro governador Márcio França”, afirmou a deputada.
Líder do governo Alckmin, Barros Munhoz (PSDB) tentou colocar panos quentes na discussão. Disse que a orientação da sessão -feita pelo presidente Cauê Macris (PSDB) tinha sido “extremamente correta”.
Segundo Munhoz, as negociações foram interrompidas porque não houve consenso no Colégio de Líderes, uma instituição com os líderes partidários da Alesp que acorda a pauta do dia e os resultados das votações.
“Todos os projetos foram sugeridos para serem votados hoje. Depois, ele [Macris] consultou líder por líder sobre os projetos em que havia concordância ou não. E é rigorosamente verdadeiro que nenhum projeto teve a concordância de todos os líderes, nem a PEC 5 nem o 33”, disse o líder do governo.
A reportagem não conseguiu localizar o deputado Caio França para comentar a discussão até as 18h30.
(Folhapress)
Foto: Eduardo Knapp/Folhapress