Sem-teto faz ‘casa mobiliada’ sob o Minhocão para fugir das drogas

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Em uma das colunas do Minhocão, dois quadros compõem, ao lado da lousa onde se lê “Deus é Fiel”, uma espécie de sala de estar. Wlademir Delvechio, 33, gosta “das coisas arrumadas”. Tem mesinha com planta, tapete. “É bom ter tudo limpo pra dormir”, diz. “Mas isso não é minha casa”. Há três meses, esse morador de rua nascido em Osasco alojou-se sob o Elevado Presidente João Goulart. A nova morada simboliza uma luta pessoal contra o crack.

Quando veio para a capital tentar um trabalho (ele vivia em Ilha Comprida, litoral sul), há três anos, acabou na rua por causa da pedra. Viveu na cracolândia até “fugir” para debaixo do Minhocão.

Até sexta-feira (21), estava longe do crack havia ao menos duas semanas. “Eu tenho minhas recaídas, sozinho não é fácil”. Já procurou programas da prefeitura, mas diz não ter conseguido vaga. “Quem não quer ter um lugar pra acordar, escovar os dentes e ir pro trabalho?”, diz. Quer também reencontrar os filhos, de 8 e 16 anos, que nunca mais viu. “Queria que eles soubessem que eu sobrevivi”.